PENSAMENTO PLURAL A demonização dos imigrantes: um espetáculo político de consequências devastadoras, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena postou, em sua página “Palmarí na Estrada” suas impressões sobre a recente deportação de brasileiros, considerados imigrantes ilegais, pelo Governo Trump. Trata-se de uma de suas primeiras medidas contra imigrantes nos Estados Unidos. Confira íntegra…
O presidente Donald Trump reacendeu sua incansável cruzada contra os imigrantes, mobilizando tropas para a fronteira sul, orquestrando operações de grande visibilidade e expandindo a máquina de deportação. Com ordens executivas abrangentes e uma retórica inflamada, ele retrada os imigrantes como arquitetos de ondas de criminalidade que nunca cometeram, sombras por trás de uma decadência social que nunca instigaram.
Este teatro político familiar não é novo, tampouco sua estratégia subjacente. Ao enquadrar os imigrantes como uma ameaça iminente, Trump fomenta o medo e a divisão, apelando a uma base ansiosa por soluções simplistas para problemas complexos. No entanto, a realidade está muito distante desse retrato sombrio. A grande maioria dos imigrantes indocumentados são indivíduos trabalhadores, em busca de segurança, estabilidade e oportunidade – princípios sobre os quais os Estados Unidos foram, supostamente, fundados.
Sob a direção de Trump, a presença militar na fronteira se intensificou, os voos de deportação foram retomados em massa e a operações do ICE desmantelaram famílias e comunidades. Agora fortalecido, o ICE opera com menos restrições, detendo indivíduos em locais de trabalho, escolas e até mesmo em templos religiosos. Em um único dia, centenas de imigrantes foram presos – alguns com antecedentes criminais, outros culpados apenas de sonhar com uma vida melhor. A administração celebra estas ações como um triunfo, uma restauração da “lei e da ordem”. Mas, que lei está sendo defendida quando inocentes são arrancados de suas casas? Que ordem é mantida quando o medo se torna a força dominante em comunidades inteiras?
As consequências dessa campanha vão além dos diretamente afetados. A mensagem é clara: imigrantes, independentemente de suas contribuições, não são bem-vindos. Esse clima de medo silencia testemunhas de crimes que poderiam ajudar as autoridades, corrói a confiança nas instituições e empurra indivíduos ainda mais para as margens da sociedade. Trata-se de uma política não de segurança, mas de alienação deliberada.
Ironicamente, as estastíticas mostram que as comunidades de imigrantes tendem a ter taxas de criminalidade mais baixas do que a população nativa. No entanto, a retórica de Trump não se alimenta de fatos, mas do poder incendiário de ameaças fabricadas. Ao usar o espectro da imigração como arma política, ele desvia atenção das verdadeiras fontes de instabilidade econômica e social – desigualdades sistêmicas, instituições falhas e má gestão política.
A militarização da fronteira, a revogação de caminhos legais para o asilo e o ressurgimento de políticas como “Permaneça no México”, ilustram ainda mais a visão de Trump: uma nação isolada, hostil e fechada. Mas a história já provou que muros, sejam físicos ou ideológicos, não permanecem de pé para sempre. A questão que resta é – quando os Estados Unidos reconhecerão que sua força nunca esteve na exclusão, mas sim na resiliência e nas contribuições daqueles que buscam chamá-lo de lar?
Por ora, o ciclo continua. Os imigrantes permanecem como bodes expiatórios de uma agenda política mais preocupada com espetáculo do que com justiça. E enquanto Trump celebra suas vitórias na batalha contra um inimigo imaginário, o verdadeiro custo recai sobre aqueles cujo único crime foi ousar acreditar no sonho americano.
* Link da página em https://palmarinaestrada.com.br/a-demonizacao-dos-imigrantes-um-espetaculo-politico-de-consequencias-devastadoras/
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