PENSAMENTO PLURAL Carta apócrifa de John Lennon aos jovens aprisionados nas redes, por Palmarí de Lucena

Nesta nova carta apócrifa do escritor Palmarí de Lucena, John Lennon evoca a essência de Imagine para alertar os jovens sobre o aprisionamento nas redes sociais. Clama por menos filtros e mais verdade, por viverem fora da vitrine digital. Com ternura e lucidez, pede que desliguem-se para reencontrar o real: o amor sem performance, o silêncio sem notificação, e a vida como poesia vivida, não apenas postada. Confira íntegra…

Carta Apócrifa de John Lennon aos Jovens Aprisionados nas Redes

 

Meus caros,

Se esta carta vos encontra entre um scroll distraído e outro, entre um vídeo de dancinha e um tutorial que promete a fórmula da felicidade, peço apenas: leiam sem pressa. E se puderem, sem rolar para baixo antes da última linha.

Eu disse certa vez que “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”. Hoje, olhando daqui, percebo que a vida também se esconde enquanto vocês se afundam nesse teatro de espelhos, onde a alma é medida por seguidores e o silêncio é um incômodo que precisa ser abafado por notificações.

Vocês vivem conectados com o mundo inteiro, e ao mesmo tempo, tão longe de si mesmos.

O mundo de Imagine — aquela canção que escrevi com esperança e sem ilusões — não era feito de likes, mas de sonhos. Sonhos de paz, de simplicidade, de partilha. Sonhos de um lugar sem fronteiras entre os corações, onde cada pessoa pudesse viver por inteiro, não por recortes. Onde ninguém precisasse postar uma foto sorrindo para esconder que chora à noite.

Imagine all the people, living life in peace… Mas como viver em paz se tudo o que vemos são comparações? Como ser inteiro se passamos o dia tentando parecer melhor?

Eu vos imploro, jovens poetas do futuro: desliguem-se de vez em quando. Andem na chuva sem filmar. Façam amor sem publicar. Cantem sem autotune. Digam “eu te amo” com a voz trêmula e real. Porque a vida não é uma sequência de stories — é uma história que se escreve no peito.

Imagine que é possível viver com menos filtros e mais verdade. Que é possível sair das bolhas e encontrar o outro com o olhar. Que a esperança ainda pulsa fora da tela.

A canção continua. Cabe a vocês escolher se ela será trilha de fundo ou revolução interior.

Com ternura,
John
(Lá de um lugar onde o céu não tem fronteiras e ninguém é julgado por ser quem é)

 

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