Eleições no PT: a disputa entre o passado e o futuro
As eleições diretas que se avizinham no PT parecem revelar uma disputa entre o passado, representado pela candidatura do deputado Luiz Couto, e o futuro, expressdoa na postulação de Charlinton Machado. Esse é o pensamento do cientista político Flávio Lúcio Vieira em seu mais recente artigo, quando ao processo de eleições diretas que o partido promove em novembro.
“Enquanto Luiz Couto teimosamente insiste em continuar sendo o biombo para as investidas externas de forças que desejam apresentar o PT dividido – do ponto de vista da estratégia do governador Ricardo Coutinho… a candidatura de do professor da UFPB, Charlinton Machado, expressa o novo status político que o PT adquiriu depois das eleições de 2012”, diz Flávio Lúcio.
Confira na íntegra: “Até as eleições para a Prefeitura de João Pessoa de 2012, o Partido dos Trabalhadores ocupava um papel periférico nas disputas eleitorais da Paraíba, o que era uma situação paradoxal, se considerarmos o peso político que o partido adquiriu no país depois da vitória de Lula para a Presidência da República, em 2002.
No Nordeste, em especial. Aqui, o partido avançou de forma consistente e passou a ser foça decisiva em territórios que o PT, até então, não representava ameaça aos grupos hegemônicos tradicionais. Bahia, Sergipe e Piauí eram estados em que o PT não apenas passou a ser uma das forças principais, como chegou ao poder.
Em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e no Ceará, o PT consolidou seu status político e a dar consistência a alianças mais à esquerda, especialmente com o PSB.
A Paraíba se incluía entre os estados em que o PT era força marginal, atuando quase como linha auxiliar de partidos e grupos hegemônicos no estado (PMDB, PSDB e PSB), que aglutinavam o restante das forças em torno deles.
Sem lideranças de projeção estadual – mesmo depois de 2002, o PT foi incapaz de disputar sequer uma das vagas para o Senado, – faltava ao partido um projeto que gerasse expectativa de poder e que reunisse suas correntes internas e criasse um polo para viabilizar a aglutinação das forças que nacionalmente orbitavam em torno do apoio ao Governo Federal.
Foi isso que levou a uma divisão interna cuja motivação não era outraEque não as alianças dos grupos com forças externas ao partido, mesmo aquelas consideradas adversárias nacionalmente. E, infelizmente, o deputado federal Luiz Couto colocou sua liderança a serviço desse projeto de divisão do PT que pouco servia aos interesses desse partido.
Em 2010, essa divisão que era esboçada em ações individuais – como aconteceu em 2002 e 2006, com a formação de palanques duplos em apoio à candidatura do PSDB ao governo, – tornou-se pública com o anúncio formal do apoio do deputado Luiz Couto e de seu grupo à candidatura de Ricardo Coutinho a governador pelo PSB.
Além de romper com a decisão tomada pelas instâncias do PT, a decisão de Luiz Couto carregava consigo outro agravante inconciliável: o PSB se coligara na Paraíba com PSDB e Dem, partidos que faziam dura oposição ao PT e indicaram as duas vagas para o Senado na coligação com o PSB.
Eleições no PT: passado X futuro
Com as eleições para a renovação da direção do Partido dos Trabalhadores, que acontecerão na primeira quinzena de novembro, o partido de Lula se debate em torno de duas opções, representadas nas candidaturas à presidência de Luiz Couto e Charlinton Machado.
Se me pedissem para definir a principal diferença entras elas, eu resumiria numa palavra: futuro.
Enquanto Luiz Couto teimosamente insiste em continuar sendo o biombo para as investidas externas de forças que desejam apresentar o PT dividido – do ponto de vista da estratégia do governador Ricardo Coutinho, o apoio de Luiz Couto oferece a ele a oportunidade de entrar na base social lulo-petista e dar-lhe tinturas mais “avermelhadas” – a candidatura de do professor da UFPB, Charlinton Machado, expressa o novo status político que o PT adquiriu depois das eleições de 2012.
A eleição de Luciano Cartaxo para a Prefeitura da Capital paraibana projetou o partido na direção de voos mais altos. Qualquer leigo na política sabe que uma vitória para prefeitura da maior cidade do estado é um passaporte para o governo estadual, assim como foi para o atual governador.
Claro que tudo depende dos resultados da administração petista em curso e, principalmente, da reeleição em 2016, sem a qual fica impensável qualquer projeção de vitória em 2018.
Enfim, considerando um passo de cada vez, 2016 é mais importante para o PT do que 2014, mas em várias questões 2014 podem ajudar a definir (e muito) 2016. Mas, esse é um assunto que deixaremos para depois.
Ou seja, a simples menção de projetos futuros, que incluem o PT como força principal, “protagonista” como gostam de dizer as lideranças que apoiam a candidatura de Charlinton, deveria ser razão suficiente para mobilizar as paixões petistas.
E se constituir num óbice intransponível, um óbice político e moral para as pretensões de Luiz Couto, um deputado, é bom que se registre sempre, que desde sempre honrou sem mandato e os votos dos eleitores paraibanos no Congresso Nacional. Inclusive o meu.
Se Luiz Couto não perceber esse dado elementar, que deixa sua candidatura a presidente do PT sem discurso– a não ser reafirmar um passado que todo petista provavelmente gostaria de esquecer – o deputado pode enveredar por um caminho sem volta, cujas portas que se abrirão serão poucas, e a mais escancarada de todas talvez seja a de saída do PT.
É para o futuro que Couto deveria olhar nesse momento. Para o do PT e para o seu próprio.”