A nova orquestra, a cultura e o malabarismo dos gestores
A recente criação da Orquestra Sinfônica de João Pessoa, pelo prefeito Luciano Cartaxo, despertou uma interessante polêmica sobre a política cultural na Paraíba. Dois textos primorosos tratam da questão. Num deles, João Linhares, ex-maestro da Sinfônica da Paraíba, elogia o pioneirismo do ex-governador Burity com a música erudita no Estado, mas considera a nova orquestra apenas um “arranjo de ocasião”.
Já o poeta Ed Porto trata o secretário Chico César como “parasita” e pontua: “O malabarista da prefeitura de João Pessoa (Cartaxo) juntou os cacos da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB), implodida pelo malabarista do estado (Coutinho) e por seu “secretário” de cultura que não apita, para arremedar uma orquestra sem a menor infraestrutura para tal”.
Texto de João Linhares, sob o “A cultura e os malabarismos dos seus gestores”: A Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa, tal como se apresenta, é apenas um arranjo de ocasião, vendido como se fosse um grande feito e pretende fazer cultura passando por cima da história. Anunciar exaustivamente na TV “pela primeira vez na Paraíba um festival internacional de música clássica” é bizarro e menospreza a memória daqueles que participaram desta história e conhecem muito bem os seus altos e baixos.
O mais curioso é que o Sr. Maurício Burity, diretor da funjope, permita esse tipo de divulgação demagógica e não lembre dos feitos do seu próprio pai que, enquanto governador, fez muito pela música na Paraíba. Ideologias políticas `a parte, não fosse pelo ilustre Tarcísio Burity e sua carismática irmã Isabel Burity a música erudita aqui sequer existiria com a mesma força, que fez a Paraíba importar, criar e exportar músicos para o mundo inteiro.
Talvez o único erro do Dr. Tarcísio, tenha sido tratar a Orquestra Sinfônica como se fosse sua e não da Paraíba, uma vez que oficialmente não a criou verdadeiramente, com um quadro técnico definido e específico de profissionais, vinculados a uma secretaria, com salário base condizente com os custos de um profissional gabaritado, um plano de carreira e uma aposentadoria digna para os seus músicos, deixando-a assim vulnerável a outros governantes que não souberam reconhecer a sua importância.
Quanto ao momento presente, acho lamentável essa mania dos gestores tentarem vender algo como se fosse uma coisa bem maior e mais importante, do que realmente é, apenas para tentar convencer a opinião pública de que estão fazendo mais que seus opositores. Todos os músicos sabem que a crise da música na Paraíba continua e, nos últimos dois anos, se aprofundou por negligência dos gestores culturais tanto da Prefeitura Municipal quanto do Governo do Estado.
Enquanto o Governo do Estado se arrasta na burocracia de realizar um concurso público que vai apenas remendar os fragmentos da Sinfônica da Paraíba, a Prefeitura Municipal tenta ganhar tempo e mostrar que tem mais a oferecer num terreno que está sufocado e carente de ações efetivas e duradouras. Se a prefeitura quer criar uma Orquestra Sinfônica Municipal, deveria fazê-lo sem cometer os erros históricos que já foram cometidos antes.
Seria realmente louvável se o Prefeito apoiasse essa ideia e criasse uma Orquestra Sinfônica Municipal de verdade, com sede própria projetada por engenheiros de som, e com capacidade para abrigar confortavelmente um público de pelo menos mil pessoas, com um salário-base que permita ao músico viver do seu ofício sem precisar ficar correndo de um lado para o outro para conseguir suprir apenas as suas necessidades básicas.
O que ocorre na verdade é, como disse antes, um simples arranjo de ocasião, pagando aos músicos cachês diferenciados, embora todos baixos, e tome propaganda na TV para criar mais uma imagem, que desmoronará na próxima troca de gestores.
De qualquer forma é louvável que ocorra mais um festival natalino e tenho certeza de que terá um lindo concerto de abertura, pela capacidade do maestro Laércio Diniz, pela musicalidade e grandeza da Solista, e pela resistência dos músicos que não tem outra opção a não ser a porta de saída, o aeroporto ou a rodoviária. Só acho pouco inteligente, tentar passar por cima da história só para fazer demagogia, principalmente quando se trata de cultura.”
Texto de Ed Porto, sob o título: “A cultura e os malabarismos dos seus gestores e as piruetas dos eleitores”: “Super John, este seu título com malabarismos me lembrou de imediato dos palhaços do circo cultural de nossa provinciazinha. Nessa guerra por votos, o malabarista da prefeitura de João Pessoa (Cartaxo) juntou os cacos da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB), implodida pelo malabarista do estado (Coutinho) e por seu “secretário” de cultura que não apita, para arremedar uma orquestra sem a menor infraestrutura para tal.
Como você bem disse, meu caro João, sem sede própria, sem concurso, sem planejamento: um arremedo orquestral na tentativa de se mostrar superior ao malabarista oponente. Ambos, “farinha do mesmo saco” em termos de métodos para angariar votos. Para afundar de vez a área musical, os caras estão apoiando show de música gospel, quando sabem perfeitamente que o estado é laico e não deviam meter o dinheiro público em eventos religiosos.
Mas não é só a música que padece meu caro Linhares. O teatro também né Fernando Teixeira? E a dança, literatura, fotográfica, cinema, artes plásticas etc. Arte em geral. O Estado fala em reforma de uns circos (Santa Rosa, Espaço Cultural, teatro de Cajazeiras, cine-teatro São José em Campininha) há três anos para tentar reinaugurá-los em 2014 (ano eleitoral meu simpático eleitor-palhaço).
Conseguiu fechar ao mesmo tempo duas casas de espetáculo de João Pessoa. Sem falarmos na situação do teatro Cilaio Ribeiro (que cai aos pedaços e poderia ser reformado com menos grana e menos alarde) e na Escola Piollin, localizada em terreno do Estado, que corre a cuia pra manter um prédio de pé.
Por que não reformaram um teatro primeiro para depois partir pra outra reforma? Falta de assessoria ao domador Coutinho? Atitude louvável esta de reformar depois de tanto tempo? Talvez, meus caros eleitores do cordão laranja e do cordão encarnado. Mas, e o conteúdo pra botar debaixo da lona do circo? Traduzindo: e o apoio pra formação artística de plateia e de talentos?
O PRIMA, o nosso El Sistema? Aliás, não me oprima: quanta promessa não cumprida! Polos pelo Estado, revolução na formação musical dos pobres coitados e o que se vê é um polinho aqui outro acolá, uns poucos aprendizes, e um mais “projeto” pra acomodar uns figurantes do bando: por exemplo, o revolucionário ex-maestro Alex da OSPB dá plantão por lá (será que dá mesmo? Acho que enxuga o mesmo gelo que o seu mentor: o parasita Chico, O César).
Eo circo da PMJP: o Estação Ciência, Cultura e Artes? Qualquer palhaço desavisado nota que a Estação mais se presta para o turismo do que pras artes. Infelizmente, John, o Festival Natalino terá outros arranjos de ocasião.
A guerra de eventos de fim de ano e de verão quase sempre se potencializa em ano eleitoral. Aí o turista vem e vê e crê que tudo anda maravilhosamente bem na terra de Sivuca, de Jackson do Pandeiro, de Antônio Barros e Ceceu, de Genival Lacerda, de Cátia de França, de Luci Alves (a pedra da vez) e de tantos outros da música popular e da música clássica do nosso sublime torrão, como Radegundis, Costinha, Sandoval Moreno, Arimatéia Formiga etc.
E os outros muitos artistas paraibanos do teatro, da dança, da fotografia, do cinema, da literatura? Todos, meu caro, continuam oficialmente ocultos no cenário. Hoje tem marmelada? Tem sim senhor!”