Cássio rompe ou não rompe? Eis a questão
Não constitui novidade para ninguém que uma massa expressiva de aliados do senador Cássio Cunha Lima deseja, ardentemente, que ele rompa a aliança com o governador Ricardo Coutinho. Mais que isto: deseja que o tucano seja candidato exatamente para enfrentar nas urnas aquele a quem apoiou em 2010, e hoje é tão rejeitado pelos cassistas.
Num certo sentido, é lícito imaginar que o senador Cássio, se não estimula, pelo menos não rejeita essas manifestações. Primeiro, porque também não considera a gestão do aliado nenhuma brastemp. Tem pesquisas e sabe. Depois, porque ao se manter nos holofotes, fragiliza o governador. A especulação em torno de seu nome deixa Ricardo à sua mercê.
Mas, Cássio vai ou não romper? Eis a questão. Após ter fermentado por tanto tempo essa possibilidade, criou-se num imaginário do eleitor a expectativa de sua decisão. Se não romper, provocará um anticlímax de consequências políticas imprevisíveis. Não é exagero imaginar que muitos irão considerar seu recuo uma traição, e poderão dar o troco votando na oposição.
Além do mais, seu apoio a Ricardo não garante sua reeleição. Em 2010, Cássio decidiu o jogo em favor de RC por que estava na situação de vítima no processo eleitoral, e o girassol representava o novo no contraponto com Zé Maranhão. Agora, RC está muito rejeitado, não representa mais novidade e Cássio sabe que não terá mais como transferir o mesmo que transferiu em 2010.
Romper seria a outra alternativa. Mas, nesse caso, quando? Se romper agora, no início do ano, certamente provocará a demissão de todos os seus aliados que porventura estejam no Governo RC. Depois, começará a receber desde já o bombardeio do próprio Ricardo, que considerará sua decisão uma traição e obviamente não irá deixar por menos. Como se sabe, em política, o pior inimigo é sempre o último.
Se deixar para romper em abril, dará uma sobrevida de quatro meses aos seus aliados no Governo, mas haverá outro efeito colateral não menos desprezível. Dará a Ricardo discurso de que se aproveitou o seu Governo até a undécima, para só então romper. E o governador tem uma máquina de divulgação poderosa com um orçamento em temperatura máxima.
E, por último, Cássio sabe que irá enfrentar uma longa batalha judicial para assegurar sua candidatura. Logo que apresentar seu registro, certamente será impugnado, seja pelo próprio governador, seja pelo Ministério Público. Precisará estar muito seguro de sua elegibilidade no âmbito da Lei da Ficha Limpa. E, a preço de hoje, nenhum jurista pode lhe assegurar sua elegibilidade até ser julgado.
Sua esperança, claro, é uma mudança na composição do Tribunal Superior Eleitoral. Como se sabe, a maioria os atuais ministros não garante a segurança jurídica necessária para sua elegibilidade. E a Corte, na verdade, deve alterar seu quadro provavelmente em abril. Assim, dá pra compreender por que o senador Cássio tem hesitado tanto em oficializar sua decisão.