Passeio pelo mundo mágico de Gabriel Garcia Marquez
Muito interessante o texto do escritor Palmari Lucena, ao narrar sua passagem por Cartagena das Índias, cidade que tantas identidades guarda com o escritor Gabriel Garcia Marquez. Palmari palmilhou o percurso de algumas histórias de Gabo, como “O Amor nos tempos do Cólera” e “O Amor e outros demônios”, obras fundamentais do colombiano.
Vale conferir esse tempo “Passeio no mundo mágico de Gabo”, pelas ruas de Cartagena, uma cidade mágica da Colômbia, ícone na obra de Gabriel Garcia Marquez . Diz Palmari, em sua visita a Cartagena: “Mão invisível nos guiava pelas ruas de Cartagena, buscando o real no imaginário. Mágica cortesia de Gabriel Garcia Marquez, o Gabo de Cartagena.”
Confira o artigo na íntegra:
“Caminhávamos pausadamente, degustando os mistérios escondidos atrás das fachadas e das janelas fechadas. Trepadeiras e buganvílias estendiam-se entre as casas para ambos os lados da rua, formando canópias multicoloridas. Abrigos contra o calor asfixiante. Mão invisível nos guiava pelas ruas de Cartagena, buscando o real no imaginário. Mágica cortesia de Gabriel Garcia Marquez, o Gabo de Cartagena.
Estávamos diante da mansão vermelha do grande escritor. Construção contrastando com a beleza austera do prédio localizado na esquina oposta, o antigo convento de Santa Clara. Comunhão inconfortável. Muralhas construídas com pedra e coral separam a casa das águas cristalinas do mar do Caribe, sem ofuscar a vista panorâmica do seu escritório. Lugar perfeito, próximo ao mar, um ou outro sempre perfeito. Cidade-forte de outrora. Religiosa, supersticiosa, muitas vezes, cruel. Receptáculo de uma poção diabólica de extremismo religioso misturado com a tristeza opressora das vítimas da escravidão. Fantasmas sonâmbulos tagarelando incansavelmente na imaginação daqueles que, como Gabo, ousavam desvendar os mistérios nas tragédias e estórias presas nos labirintos da cidade.
Paramos na esquina, contemplando o Convento de Santa Clara, hoje transformado em hotel. A redação do “El Universal” pediu a Gabo para fazer uma reportagem sobre a abertura das criptas funerárias do convento, em outubro de 1949. Farejou a verdadeira notícia em uma lápide aberta no terceiro nicho do altar-mor, cripta de uma adolescente. Cabeleira longa, impetuosamente cor de cobre, transbordava o espaço funerário que a confinara. Tinha mais de vinte e cinco metros de comprimento. O túmulo da Sierva Maria de Los Angeles. Vítima de preconceitos exacerbados pela intolerância, conflitos religiosos e o desprezo dos seus pais, que a obrigaram a viver com os escravos africanos até a idade da sua morte. Lembrança de uma antiga lenda de uma marquesinha venerada no Caribe por seus milagres. Foi aqui que o livro “Do Amor e Outros Demônios” nasceu.
Parque Fernández de Madrid, onde Florentino “a partir das sete da manhã” via Fermina passar, sentado “no banco menos visível”. Sobrado branco, balcões adornados com trepadeiras e flores. Antiga residência de um judeu português, que havia sido condenado injustamente pela Inquisição, a casa fictícia de Fermina Daza e seu pai, na novela “O Amor nos Tempos do Cólera”. Seguimos à procura dos amantes. “Torre del Reloj”, “Portal de los Dulces”, o local onde os personagens Florentino Ariza e Fermina se encontraram pela primeira vez. Vivemos o grande romance…
Cartagena não é Macondo. Bacias de frutas equilibradas precariamente na cabeça, mulheres e seios fartos pedem passagem; homens raquíticos empurram carroças, totalmente oblívios às buzinas dos carros; vendedores de esmeraldas competem com seus homólogos vendendo réplicas de “La Gorda” de Botero; homens suados, chapéu de palha escondendo os olhos, procuram romance nos olhos das turistas estrangeiras. Cartagena é Gabo… E, se “aprender é lembrar”, como ele platonicamente disse, esta é a nossa lembrança de um passeio pelo mundo mágico que ele criou aprendendo a magia esquecida de sua terra…”