Charlie Hebdo: o grito contra a intolerância e a liberdade de Imprensa
Os atos terroristas patrocinado contra o Charlie Hebdo e a manifestação gigantesca realizada na França neste final de semana foram, certamente, um choque para aqueles que, nos últimos tempos, vêm tramando para impor uma mordaça à Imprensa no Brasil. É possível até admitir excessos do jornal em suas charges relativas aos muçulmanos, mas nada justifica o morticínio.
Obviamente os episódios da França não se resumem apenas à questão jornalística. Há um contencioso histórico, após a independência de colônias, como Argélia e Marrocos, quando milhares de imigrantes, tornados cidadãos, foram para a França, onde o tratamento dispensado não foi exatamente aquele que se dá a um cidadão francês, digamos, nativo. Esse fato intensificou as animosidades.
Mas, é preciso dar uma chance à tolerância. Atos terroristas como registrados nos últimos dias é um regresso ao tempo da barbárie. E mais grave quando se usa o exercício da mídia como pretexto para a catarse da violência. Pior, porque é possível distinguir também no Brasil um comportamento que beira a esse tipo de fundamentalismo, para também atacar a mídia.
Não têm sido poucos os militantes partidários que saem em defesa do amordaçamento da mídia, tudo porque o noticiário, em algum momento, desagrada seus líderes políticos. Acontece também na Paraíba. Não raro, assistimos militantes furibundos com alguma crítica ao poderoso de plantão, como se não fosse papel da Imprensa fiscalizar e, obviamente, criticar.
Se essas pessoas não suportam a crítica devem procurar uma ditadura para viver, porque a democracia pressupõe a convivência dos contrários. E, até onde a vista alcança, ainda vivemos numa democracia. Unanimidade no pensar e falar é sinônimo de totalitarismo. É próprio do pensamento totalitarista tentar resolver as questões de ideias com o uso da força, como ocorreu em Paris.
Não é disso que o Brasil ou a Paraíba precisam.
Em regime de democracia, ainda vale o pensamento de Voltaire, resumido na frase de sua biografa Evelyn Beatrice Hall: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”