Lindbergh: a ironia do ex-cara-pintada que acabou no mesmo barco de Collor
Coube ao senador paraibano (pelo Rio) Lindbergh Farias chancelar a lista do procurador-geral Rodrigo Janot. No momento em que assumiu ter recebido os R$ 2 milhões de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás para sua campanha em 2010, Lindbergh deu veracidade à lista e ao escândalo, e ele próprio carimbou o passaporte para seu purgatório político.
O senador petista confirmou o recebimento do dinheiro, mas negou ter conhecimento de que sua origem era ilícita, resultado de propinas. Ora, Paulo Roberto Costa foi preso pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava Jato, em 2014, quando integrava a campanha de Farias ao Governo do Rio. Era, portanto, uma relação antiga que vinha desde 2010, quando recebeu a doação de Costa.
“De fato, você pode até dizer que é impróprio. Só que não é ilegal”. Essa declaração fatal dada por Lindbergh à Folha de São Paulo (http://goo.gl/sPbviT) consagra a relação incestuosa entre o poder público e o homem público, quase uma dança tribal em torno da fogueira dos petrorreais da Petrobrás. Excesso de franqueza, alguma ingenuidade política ou simplesmente cinismo?
Quanta ironia na história de um ex-cara-pintada, então um fulgurante paladino da moralidade política, que incendiou o Brasil no impeachment de Fernando Collor de Mello e, hoje, joga no mesmo time do ex-presidente cassado. Pelo menos na escalação de Janot e do ministro Teori Zavascki.
E para arrematar, outra declaração do senador Lindbergh cuidou de endossar o escândalo, que certamente é um dos maiores do mundo. Disse à Imprensa neste final de semana: “Nesse processo tem gente envolvida em corrupção na Petrobras, gente que recebia propina semanal, recebia dinheiro na conta, inclusive em conta no exterior, e tem um caso de doação eleitoral legal, que é o meu caso.”
Sua defesa foi quase uma confissão de culpa e pior: jogou óleo quente nos demais integrantes da lista de Janot, que certamente não deixarão barato. Tem razão, quando se lastima: “Estou numa lista que é praticamente uma condenação. Nunca sofri tanto. Pedi doação legal e entrei na lista com gente que fez atos bárbaros corrupção. Isto pode estar destruindo a minha carreira política.”