Professor ataca Sintep: “Os inimigos da educação não estão só no Palácio da Redenção”
Nem tudo são flores entre os professores na sua relação com o Sintep. Em carta aberta à direção do Sindicato, um professor levanta suspeitas sobre as reais intenções do Sintep com respeito a atual paralisação dos professores. “Somos nós que vivenciamos o caos dentro da escola pública. Não vocês”, desabafa o professor.
Segundo ele, os diretores do Sintep “perderam a chance de fazer história. Perderam a chance de fazer uma greve histórica na educação da Paraíba, como fizeram os professores no Paraná e estão fazendo os professores em São Paulo e em outros Estados”, por terem adiado o início da paralisação, por conta das eleições dentro do Sindicato.
Confira na íntegra…
“OS INIMIGOS DA EDUCAÇÃO NÃO ESTÃO SÓ NO PALÁCIO DA REDENÇÃO
Carta aberta à direção do SINTEP-PB
e aos professores e professoras da rede estadual de ensino da Paraíba
Presenciei a atual direção do SINTEP-PB duas vezes, nesse ano de 2015, na escola estadual na qual trabalho. Na primeira vez no início de fevereiro, quando o sentimento de indignação era latente, em todos nós professores, logo após recebermos a dura notícia que só teríamos 4,5% de aumento, concedido por um governo que prometera há poucos meses – em campanha eleitoral – dobrar o nosso salário. Um grupo de professores, onde me incluo, decidiu tentar mobilizar a categoria contra essa ardilosa manobra das forças governistas que se dizem de esquerda, haja vista a completa ausência e inoperância do sindicato.
Eis que o SINTEP-PB surge e diz: “não podemos brincar de fazer greve; temos que agir com a razão e não com a emoção”. Marcam então uma Assembleia Geral para o dia 13 de fevereiro, na sexta-feira de carnaval, e somente no dia 31 de março, às vésperas do feriado de semana santa, a greve é deflagrada. Tudo cuidadosamente pensado para que só ocorresse após as eleições para a diretoria do sindicato, realizada no dia 26 de março. Com todo esse tempo, perderam a chance. Perderam a chance de fazer história. Perderam a chance de fazer uma greve histórica na educação da Paraíba, como fizeram os professores no Paraná e estão fazendo os professores em São Paulo e em outros Estados.
Na assembleia do dia 31 de março, com quase 400 professores presentes, a direção informa que apenas falarão 4 pessoas da nossa base e mais 6 pessoas da direção. E na Assembleia Geral de ontem, 10 de abril, não permitiram nenhuma inscrição de falas! Tentaram impor os nomes do Comando de Greve Estadual autoritariamente, mas a imensa maioria dos presentes disse NÃO! A direção simplesmente encerrou a Assembleia, considerando o Comando aprovado, e a mesa dos pelegos se retirou debaixo de vaias, dando as costas à categoria. Mas não antes de retirarem os microfones do local, deixando o auditório sem um sistema de som, para que não fosse possível a continuidade das discussões entre as centenas de professores que permaneceram no auditório. Acredite, professor. Acredite, professora. A direção do SINTEP-PB fez isso. Por mais absurdo que possa parecer.
Não sei se a atual diretoria do SINTEP-PB, há mais de 30 anos ocupando e loteando um espaço que é nosso, tem ciência do intenso processo de ridicularização que é alvo constantemente, em qualquer reunião rápida de professores. Visitando, junto com alguns companheiros e companheiras do Comando de Greve, algumas escolas em João Pessoa, percebemos, por exemplo, que era muito importante que nós nos apresentássemos afirmando que não fazíamos parte da direção do SINTEP-PB. Porque quando não o fizemos, vocês imaginam o que escutamos. Essa direção não tem mais legitimidade alguma. O descrédito está escancarado. É um fato.
À direção do SINTEP-PB eu falo: não se acovardem perante uma base indignada! Somos nós que vivenciamos o caos dentro da escola pública. Não vocês. Sou base companheiros. Não se sintam ameaçados em perder seus antigos cargos, pois não quero me tornar um diretor sindical burocrata que tende à conservação. Sou professor de História e luto por educação todos os dias, e aqui eu vos pergunto: estão brincando de fazer greve?! Vocês não tem o mínimo direito de falar que os espaços e os atos são esvaziados porque são vocês mesmos que afastam os professores da luta. Como fizeram ao proibir colegas meus, professores, de entrar na Assembleia Geral do dia 31 de março, utilizando inclusive uma absurda força de segurança privada. São vocês que nos deixam pessimistas quanto à vitória. São vocês que não querem mobilização e participação; que não querem democracia nas tomadas de decisões. E mais do que qualquer outra coisa: não querem uma greve de verdade. Admitam! Meu sentimento é que vocês estão apenas cumprindo um papel: o de propor um movimento para que outro mais forte não floresça na educação paraibana. Mas não conseguirão, pois já floresceu! O tempo de vocês está acabando. Como base aqui eu vos pergunto: o que vocês querem afinal? Porque se não querem vencer, se não querem greve, se há outros interesses, sejam financeiros ou partidários, vocês devem ser os primeiros a serem expulsos do movimento grevista. Porque com vocês não há perspectiva de vitória.
E aos professores e professoras da rede estadual de ensino da Paraíba eu digo: cuidado, pois os inimigos da educação não estão somente no Palácio.
Lutemos contra todos eles! A greve é nossa! E a direção não é o sindicato!
Allan Luna
Professor de História
João Pessoa, 11 de abril de 2015.”
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