O acordo de paz na Colômbia e a revolução do perdão que pode ser um exemplo para o Brasil
O Blog tem reproduzido os artigos do escritor e diplomata Palmari Lucena, abordando temas internacionais, como o recente acordo celebrado pelo governo colombiano com as FARC, no qual o que prevaleceu foi uma “revolução do perdão”. “É preciso apagar os focos de rancor, ódio e vingança que cada um de nós leva no coração, para ter um futuro melhor”, diz Palmari.
Uma experiência que poderia ser aplicada também ao Brasil de tantas cicatrizes e, especialmente, tantos rancores. O artigo está em seu Blog “On the road, na estrada…”
Confira a íntegra do artigo, sob o título “Perdão, a nova arma do povo colombiano”:
“Encontramos nosso amigo Padre Leonel em um pequeno restaurante do bairro da Soledad em Bogotá, quase três décadas haviam passado desde a nossa despedida em Nairóbi. Lembranças dos nossos projetos de alhures, desafios e os perigos nas estradas do deserto de Chalbi, no Quênia. Uma frase do religioso concluiu nossas reflexões sobre o passado: A memória é o maior presente que alguém pode dar a outra pessoa¨.
¨Revolución del perdon¨, o título do livro, atiçou-nos a curiosidade. Presente do autor, padre Leonel Narvaez. É preciso apagar os focos de rancor, ódio e vingança que cada um de nós leva no coração, para ter um futuro melhor – a premissa principal do seu trabalho na ¨Fundación para la reconciliación¨. Perdão no centro do universo humano. Fonte de todas as bondades, túmulo profundo das maldades.
O Acordo de Paz entre o Governo da Colômbia e as FARC, concretizou a opção pelo caminho da paz e reconciliação. Verdade, justiça/reparação e pactos de ¨nunca mais¨devem ser elementos básicos na implantação do complexo de processo de paz desencadeado pelo acordo histórico. A verdade teria precedência sobre a justiça punitiva que, possivelmente, levaria 100 anos para adjudicar todos os casos pendentes.
O perdão, para o Padre Leonel, é uma virtude que serve para quebrar a irreversibilidade do passado, permitindo o retorno dos ofensores à comunidade. Um processo de catarse, de transformação da memória e de construção de novas narrativas. O perdão é, portanto, uma condição indispensável para a construção de uma atmosfera propícia à reconciliação sustentável.
É impossível ter um povo unido quando seus líderes tomam decisões e impõem soluções baseadas em rancor, ódio, interesses ou vingança pessoal, sem aceitar o perdão como o único caminho para a reconciliação e o desenvolvimento. A sociedade precisa questionar o ciclo destrutivo da política contemporânea, ódios comuns formando a base das alianças políticas, como nos ensinou o grande pensador Alexis de Tocqueville.”