Afinal, Luiz Gonzaga era salafrário ou sofreu agressão covarde? Confira o embate do final de semana
O final de semana registrou um temperado embate entre o Professor João Trindade, uma referência com larga militância sobre assuntos do português, e o juiz Onaldo Queiroga, pesquisador emérito da música nordestina, especialmente em torno da obra de Luiz Gonzaga, com vários livros publicados.
Tudo começou quando Trindade publicou uma mensagem em redes sociais criticando o cantor: “Ninguém suporta mais essa frescura de se endeusar Luiz Gonzaga. Era um salafrário que comprava música, constrangia os “parceiros” para colocar o nome na parceria. O jornalista Antônio Vicente, que fez entrevistas nesse sentido, que o diga. Gonzaga era um grande cantor, mas compositor nunca foi!”
A resposta de Onaldo veio logo depois, com um artigo “O professor e o matuto”, em que postulou: “Na vida, professor é quem transmite seus conhecimentos para alunos, educando-os para a travessia da longa estrada da vida. Já o matuto tem no dicionário, conceito, que se refere a pessoa que habita o mato, indivíduo ignorante e ingênuo.
Mas, quem conhece de perto o matuto, sabe que ele não é nada disso. Tem sua própria cultura, suas crenças e visão singular sobre o mundo. É ser inteligente, fonte inspiradora de mestres como Jessier Quirino e Ariano Suassuna. Pode não ser letrado, mas também é professor.
Como disse Gildson de Oliveira, um matuto conquistou o mundo, o Rei do Baião. No início do Século XX, nasceu o pernambucano daquele Século, seu Luiz, lá nos confins do Pernambuco. O mundo era outro, pois a comunicação e o transporte não eram como hoje. Mas esse matuto retirante, invertendo as coisas, levou no seu matulão a musicalidade de um povo chamado Nordeste. As duras penas, a tornou visível para o Brasil e para o mundo.
Afora isso, Gonzaga teve sua vida pautada pela ética, autenticidade, generosidade, figura agregadora e artista que sempre abriu seu palco para novos artistas. Político sem mandato, na seca, era o primeiro a realizar shows para matar a fome e sede de seus irmãos flagelados. Deu mais de 300 sanfonas, e, mesmo assim, depois de 28 anos de sua partida, vem agora, um que se diz letrado, taxar Luiz Gonzaga de salafrário, afirmando, ainda, que ele nunca foi compositor e que constrangia poetas para conseguir parcerias.
Destilado e covarde intrujice, talvez revele que o letrado não aceite que a matutice tenha levado o “Lua” a iluminar tantos céus, inclusive, o seu. A frustração não arranha a vida e obra do menestrel do sertão. Sempre será o eterno Rei do Baião! Viva o Nordeste de seu Luiz!”