A violência sistêmica no País e o que deve ser feito, por Palmarí de Lucena
Em seu mais recente comentário, o escritor Palmarí de Lucena aborda a questão da violência sistêmica que atinge o País, em função da ineficácia do poder público para enfrentar institucionalmente o problema. O escritor entende que é preciso se implantar “estratégias sustentáveis”, que sejam capazes de garantir a ordem pública, sem precisar recorrer às Forças Armadas.
Confira a íntegra do seu comentário “Ó Pátria amada…”:
“Estamos nos tornando um país onde a vacuidade do sistema político é reiterada sistematicamente pela presumida competência política do presidente e a ineficácia difusa daqueles responsáveis pela execução de reformas e programas essenciais para o futuro da nação brasileira. Ocorrências policiais e desvios éticos recorrentes de pessoas próximas à Presidência e membros do Congresso reforçam a percepção de estar irremediavelmente perdidos em uma encruzilhada de estradas tenebrosas, sem a mínima noção de que direção devemos escolher ou os perigos escondidos atrás de cada curva.
Surpresas ou mistérios desagradáveis que nos armam tocaias a cada instante são os únicos fatos novos repercutindo na paisagem política atual, quase sempre impérvios a tentativas de condena-los à ignomínia e eventual sepultamento. Insegurança, fruto mais baixo da nossa árvore, contaminando o espaço público, a propriedade privada e as relações entre comunidades e as autoridades. Somos uma sociedade de suspeitos, criminosos ou vítimas, cumprimos todos os três papeis sem precisar de efeitos especiais.
Metástase da criminalidade e da desordem avançando incontrolavelmente por um organismo predisposto ao crescimento de males e pragas, incapaz de controlar ou pelo menos mitigar a espiral nociva da violência. Comunidades transformadas em teatros de guerra, embates letais vitimando pessoas comuns confrontando problemas do cotidiano com o pouco que ganham em ocupações marginais de futuro incerto.
Manobras e articulações político-partidárias escondem a ineficácia de pronunciamentos interinstitucionais e medidas pontuais para conter a violência nas cidades e nos presídios. Faz-se necessário desenvolver e implantar estratégias sustentáveis para garantir a ordem pública sem recorrer à ocupação militar empregando táticas de contra-insurgência e o uso extensivo do poder coercivo das Forças Armadas. Policiamento cidadão nas comunidades e as Forças Armadas garantindo a soberania do país, é assim que deve funcionar uma democracia.”