O espectro de Donald Trump na eleição brasileira, por Palmarí de Lucena
Em seu mais recente comentário, o escritor Palmarí de Lucena aborda os efeitos da eleição de Donald Triump, desencadeando o descontentamento e o isolacionismo, que marcam certos bolsões da sociedade americana, e de como esse comportamento do presidente americano pode ter consequências em outros países como o Brasil, com, por exemplo, Jair Bolsonaro.
Confira a íntegra do comentário “Espectro de um Trump na eleição brasileira”:
“A eleição de Donald Trump atiçou as chamas de descontentamento e isolacionismo, até então latentes no eleitor americano. Em países onde a predominância de polarização entre dois partidos nos Estados Unidos ou alternância no poder entre membros de elites político-partidárias, são vistas como impedimento na construção de um Estado mais representativo e afinado com valores da classe media e os interesses do contribuinte.
Similaridade entre propostas políticas, antipatia pela grande imprensa e os estilos polêmicos de Donald Trump e Jair Bolsonaro provocam inúmeras comparações e alimentam a expectativa de um presidente brasileiro mais identificado com conservadorismo cultural, patriotismo, apoio irrestrito às forças militares e leis e medidas draconianas para combater a criminalidade. O viés castrense de Bolsonaro é evidenciado pela promessa de nomear oficiais militares para cargos no Poder Executivo.
Bolsonaro é um desafio, para muitos uma opção ao domínio do binômio PT e PSDB e a influência difusa do marsupial político PMDP, como o garantidor da governabilidade e funcionamento da burocracia do Estado. Embora afirmando ser um candidato fora do estabelecimento político, Bolsonaro é um parlamentar há três décadas, dois dos seus filhos também são políticos. Político profissional, que nunca se alinhou ou identificou-se com os programas dos partidos aos que pertenceu.
A viabilidade da candidatura de Bolsonaro aumentaria se transformada em um contraponto à presumível ameaça política de um candidato da esquerda, notadamente o ex-presidente Lula. Paradoxalmente, a antecipada ilegibilidade do petista e a ausência de um substituto com tração eleitoral capaz de aglutinar as forças da esquerda diminui a viabilidade de uma candidatura direitista. O Brasil aparenta marchar para o centro, buscando uma opção sustentável para a formação de um consenso nacional sobre a mutualidade dos deveres e obrigações da cidadania e do Estado Democrático de Direito.”