Marielle a a tolerância desafiada, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena, em seu mais recente comentário, aborda com a habitual competência os aspectos sociológicos e políticos que cercaram o recente assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, que “defendia os direitos de cidadãos, direitos de todos nós”. Então, cita Kofi Annan, para ilustrar seu ideário sobre o cenário atual do País: “A tolerância promovida, protegida e venerada assegurará a liberdade. Sem ela, não podemos nos assegurar de nenhuma”.
Confira a íntegra de seu comentário “Tolerância desafiada”:
“As comparações entre inteligência, formosuras e linhagens são sempre odiosas e mal recebidas, a sabedoria de Cervantes nos alertou sobre os perigos e a futilidade de engajar-nos em comparações para defender ou criar fatos sobre pessoas ou situações do nosso agrado ou desagrado. O assassinato da Vereadora Marielle Franco provocou questionamentos da indignação popular e a ameaça ao Estado Democrático de Direito, inerente na escolha da vitima e no método empregado na consumação do ato criminoso.
Minimizando a relevância, o possível viés narco-político do crime e as posições da parlamentar, pessoas diversas se abrigaram no casulo protetor de postagens nas redes sociais comparando a trágica ocorrência com outros assassinatos. Inferindo que o tratamento assimétrico entre diferentes vitimas de crimes violentos era devido a politização e manipulação midiática por grupos afins às ideias, orientação sexual e ideologia política da vereadora. Ela defendia os direitos de cidadãos, direitos de todos nós. A democracia é tudo, não estamos fazendo muito barulho por nada.
Desencadeando questionamentos sobre o compromisso da parlamentar e os motivos reais da sua luta pelo direito à vida, inclusão e diversidade, pessoas em posições de autoridade ou privilegiados por acesso à educação e uma qualidade de vida superior a maioria da população negra do Brasil, compartilharam postagens em redes sociais cujo intuito aparente era de macular a imagem deixada como herança de uma vida norteada pela tolerância e respeito à pessoa humana.
Promessas de mais representatividade política ficam cada dia mais distantes quando vilificamos aqueles que pensam ou querem fazer algo diferente. “A tolerância promovida, protegida e venerada assegurará a liberdade. Sem ela, não podemos nos assegurar de nenhuma”. As palavras de Kofi Annan ressoam como um sino de alerta sobre a intolerância, a intolerância que pode haver morto Marielle Franco, ou ser usada para justificar a perda da sua vida ou eventualmente demonizar seus feitos e ideias.”