Cabo Branco in extremis, por Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena aborda a situação dramática em que se encontra a Barreira de Cabo Branco, segundo ele, “uma tragédia ecológica esperando acontecer há décadas”. E, apesar de todos os alertas e da extensão da degradação ambiental, velhas prática estariam se perpetuando o que pode acelerar esse desastre.
Confira a íntegra de seu comentário “Cabo Branco in extremis”
“Fotografias da destruição paulatina da barreira do Cabo Branco, postadas pelo jornalista Clilson Junior, mostraram dramaticamente a extensão e o alcance da tragédia ecológica esperando acontecer há décadas. Colorido pela areia de tons ocre da falésia, o mar esmeralda transformou-se em um relicário enferrujado do desrespeito e o uso predatório de nossos recursos naturais, em nome do turismo e do desenvolvimento sustentável. Tínhamos nossa versão da Barragem do Fundão, os vilões no entanto sendo as consequências não intencionadas de políticas públicas e desenvolvimento enfatizando processos inerentes ao meio físico em detrimento ao meio biótico.
A degradação do meio ambiente pela construção de novas vias de acesso, expansão urbana ao longo da PB-08, exploração e supressão da Mata Atlântica e a impermeabilização do solo remontam ao Plano Turístico do Cabo Branco lançado em 1988, um modelo turístico inspirado no polo de Cancún no México. Considerado hoje como um exemplo vivo da perda de biodiversidade local e regional cujos recursos naturais foram degredados pelo desenvolvimento urbano e turístico não planificados à revelia de restrições ambientais. O mesmo poderia ser arguido no caso do Cabo Branco.
Apesar da evidente degradação do meio ambiente no Polo Turístico, os turistocratas continuam insistindo em associar práticas predatórias à temática do desenvolvimento sustentável e vincular esta atividade a outras metas, como: geração de emprego e renda e a qualidade de vida da população. Os objetivos de política frequentemente citados pelos gestores municipais ignoram o fato de que para alcança-los faz-se necessário um igual número de instrumentos de política. Concedendo-se incentivos fiscais para investimentos no Polo Turístico, a Prefeitura reforça o viés desenvolvimentista urbanizando egentrificando o Cabo Branco, as mesmas práticas que resultaram na devastação ambiental da falésia e do entorno do acidente geográfico mais identificado como um patrimônio natural da nossa cidade e do Brasil, como um todo.”