Muito caminhão para pouca areia, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena mapeia o destino de R$ 4 trilhões, que o Tesouro Nacional deixou de arrecadar, por conta dos benefícios que o Governo Federal concedeu a “poderosos setores da economia, lobistas de interesses especiais e caciques de partidos fisiologistas”, nos últimos quinze. Benefícios que terminaram por sacrificar vários programas sociais. Confira a íntegra de seu comentário “Muito caminhão para pouca areia”:
“Operando por décadas como uma máquina de jogar dinheiro em problemas, o Estado Brasileiro disponibilizou verbas, isenções de impostos e benefícios para atender demandas reais ou exageradas de poderosos setores da economia, lobistas de interesses especiais e caciques de partidos fisiologistas. Nos últimos quinze anos, o governo concedeu R$ 4 trilhões em subsídios para diversos setores, sem nunca avaliar ou pelo menos tem uma mínima ideia do impacto, positivo ou negativo, alcançado por estes incentivos, enquanto provocava uma redução contínua a receita potencial do governo.
Crescimento exponencial da frota de caminhões, dependência em veículos movidos a combustível fóssil e a carência de meios de transporte alternativos, são as consequências não intencionadas da concessão de financiamentos acessíveis para a compra de caminhões, como também ônibus e máquinas agrícolas através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) durante os anos de 2009 a 2016. No seu ápice, o programa alcançou seu maior valor, R$ 34 bilhões, em 2015.
O PSI e outros programas foram encerrados pelo governo de Michel Temer. Devido à crise política causada por denúncias de corrupção contra o presidente, a tendência reverteu-se no ano passado, criando novas facilidades para fortalecer a base de apoio do governo no Congresso. Concessões feitas à revelia da necessidade de controlar gastos e subsídios, um dos principais objetivos da política fiscal do governo.
Estamos presenciando a desidratação de políticas públicas que auguravam retornar ao crescimento econômico e o equilíbrio fiscal. Somos prisioneiros de um ambiente institucional minado por isenções, exonerações e benefícios que deixam o contribuinte a mercê de uma multiplicidade de grupos pressionando por em benefício próprio, levando o que querem e deixando a conta para todo nós que ficamos mais empobrecidos. Adicionando insulto ao agravo, temos de pagar involuntariamente um alto preço pelo resgate aos caminhoneiros, que fizerem o pais refém com a sua greve.”