Recordações de um Feliz Natal com Papai Noel, por Palmarí de Lucena
A mais recente crônica do escritor Palmarí de Lucena traz oportunas reflexões sobre o período natalino, e sua “mixórdia de luzes, cores e sombras”. Palmarí traz recordações das noites de Natal com seu pai, o Tenente Lucena, “relembrando episódios familiares, expressando preocupações sobre o rumo da humanidade, descansando da retórica política tóxica que quase nos fez esquecer daquelas noites de paz cheirando à família”.
Confira a íntegra do comentário “Feliz Natal Papai Noel”:
Ao chegarmos a uma certa idade, as comemorações de Natal transformam-se em uma imprevisível mixórdia de luzes, cores e sombras. Nos adestramos a conviver com novas temáticas natalinas, aceitando briosamente a diminuída possibilidade de rebobinagem dos rituais que seguíramos por muitos anos de vida. Fantasmas testemunhando a festa, pessoas queridas sentados a mesa em cadeiras vazias. Saudades dos nossos pais, de todos que haviam partido. Relembrando episódios familiares, expressando preocupações sobre o rumo da humanidade, descansando da retórica política tóxica que quase nos fez esquecer daquelas noites de paz cheirando à família.
Pensaremos nas coisas boas dos tempos em que crescermos juntos, embutidas na memória os preparativos para a grande ceia de Natal. A alegre e barulhenta linha de produção na cozinha, arriscando desastres culinários devido a alta densidade de cozinheiros. A invariável disputa pelas frituras de pedaços de massa, estimulando o vai-e-vem das crianças, aceita com um quase impercebível dar de ombros, o Natal era deles.
Natal em família é uma peça em três atos: o jantar, a barulhenta as vezes hilária abertura de presentes, seguida por episódios de curta atenção infantil sobre tudo, doces ou brinquedos, pequeno show de talento infantil, espécie de acomodação de diversas tendências e estilos artísticos animava o ambiente. Os adultos lembram de estórias e anedotário da prole em dialeto. Crianças formam novas alianças, inventando jogos e brincadeiras, criando a narrativa de uma eventual convivência como adultos.
Salvo uma pequena diferença, nosso Natal não era diferente. Tínhamos nosso próprio Papai Noel, um personagem do repertório temático do Tenente Lucena, nosso pai. As crianças mais velhas tinham uma certa desconfiança, sobre quem era o homem gordo, de barba branca, carregando um enorme saco de presentes. Algo no velhinho lembrava um pouco de Vovô, preferiam acreditar na existência de Papai Noel. Para as crianças e adultos, os dois eram irmãos siameses. E assim foram nossas noites de Natal.