O espectro do antissemitismo, confira com Palmarí de Lucena
Documentos descobertos, recentemente, em escaninhos do Itamaray, revelam a existência de um “antissemitismo institucional diante do aumento de judeus, tentando emigrar para o Brasil para escapar do regime nazista”, no período da II Guerra Mundial. Em sua mais recente crônica, o escritor Palmarí de Lucena alerta para o recrudescimento de movimentos antissemitas no País. Confira a íntegra do comentário “O espectro do antissemitismo”:
Uma circular secreta do Itamaraty descoberta pela historiadora Maria Luiza Tucci, expos a existência de antissemitismo institucional diante do aumento de judeus, tentando emigrar para o Brasil para escapar do Regime Nazista. Apresentando a justificativa que a entrada dos migrantes resultaria “[…] numa inadmissível concorrência ao comércio local e ao trabalhador nacional […]”, a política do governo resultou na rejeição de pelo menos dezesseis mil pedidos de vistos de judeus escapando do Holocausto ou tentando reconstruir suas vidas após Segunda Guerra Mundial.
“Em massa, [entrada de migrantes judeus] constituiria, porém, iniludível perigo para a homogeneidade futura do Brasil”, escreveu contraditoriamente o Chanceler Oswaldo Aranha, que como Presidente da Primeira Assembleia Geral das Nações Unidas, se tornara um dos principais articuladores da criação do Estado de Israel.
Muitos argumentam que apesar do valor histórico, a postura em relação a judeus que fugiam do Nazismo, não se enquadra na realidade atual da política externa brasileira. O preanunciado reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, decisão politicamente motivada para agradar apoiadores evangélicos do Governo, é citada frequentemente como uma mudança de paradigma. Paradoxalmente, o apego evangélico de décadas com Israel, tem mais a ver com a profecia do fim do mundo do que com política, algo preocupante considerando a secularidade constitucional do Estado Brasileiro e a Resolução Número 478 do Conselho de Segurança da ONU em 1980.
O risco de formularmos políticas equivocadas baseadas em doutrinas religiosas, pode nos aproximar ao acirramento de conflitos e protagonismo involuntário em crises migratórias, fomentadas pela intolerância religiosa, nacionalismo e o desmantelamento de estruturas globais. Devemos manter-nos atentos ao revigoramento do antissemitismo no Brasil e no mundo, principalmente em situações de crise, a dessecularizaçao do estado laico ou através da reintrodução de mitos históricos sobre a conspiração judaica.