Populismo e o ardil-22 da democracia, por Palmarí de Lucena
“Populismo é hoje o ingresso diferenciado para chegar ao poder, ao mesmo tempo o vetor de divisões e enfrentamentos entre pessoas de opiniões diferentes”. Observação do escritor Palmarí de Lucena, em sua mais recente crônica “O Ardil-22 da democracia”, quando analisa as novas tendências políticas no mundo e o desafio que se impõe às democracias vigentes. Confira a íntegra de seu comentário:
Conversando recentemente sobre o livro Ardil 22 (Catch 22) do escritor Joseph Heller, um dos nossos favoritos, notamos que o título dificultava a compreensão do nosso interlocutor sobre o que tentávamos explicar. Trata-se de uma pegadinha no regulamento militar, que isentaria um piloto de voar em missões de bombardeio na segunda guerra, se fosse mentalmente inapto. O militar teria de apresentar um atestado médico que não estava raciocinando bem, pedido que seria indeferido prontamente devido o requerente ser suficientemente são para solicita-lo. O Ardil-22 é isso aí!
Testemunhamos uma onda gigante inundando os lugares onde vivem quase dois bilhões de eleitores, privilegiados por liberdades democráticas, elegendo líderes populistas, muitos relutantes em prezar por seus valores básicos. Democracia, no entanto, depende da verdade e de todos seguirem as mesmas regras. Nem é um conceito descartável, nem pode ser adulterado quando se torna inconveniente. Será que estamos entrando em um momento Ardil-22, a democracia se emaranhando na sua própria lógica pela vontade soberana de eleitores sedentos por mudanças a qualquer preço?
Eleições recentes na Índia, a maior democracia do mundo, resultou em uma acachapante reeleição de Narendra Modi, um líder populista nacionalista. Na União Europeia, populistas aumentaram suas representações ao custo de partidos tradicionais, paradoxalmente, muitos dos novos parlamentares europeus advogam o enfraquecimento ou mesmo o abandono do projeto Europeu a la Brexit.
Populismo é hoje o ingresso diferenciado para chegar ao poder, ao mesmo tempo o vetor de divisões e enfrentamentos entre pessoas de opiniões diferentes, secularização de dogma religioso ou a promoção de um viés nativista, enrustidos em políticas públicas e realçados, em mensagens no Twitter ou outras mídias sociais. Estas tendências, são os maiores desafios às democracias e a manutenção da paz universal.