A prática da política da paranoia, por Palmarí de Lucena
A prática da política da paranoia é o mote da mais recente crônica do escritor Palmarí de Lucena. O conceito vem do historiador americano Richard Hofstadter, e consiste no “estilo de fazer política que adota o modus operandi dos mesmos adversários políticos por eles denunciados”. São líderes que, uma vez no poder, investem contra a democracia e os interesses do Estado. Texto brilhante. Oportuno. Confira a íntegra do comentário:
“O inimigo parece ser, de muitas maneiras, uma projeção de si mesmo: tanto os aspectos ideais quanto os inaceitáveis de si mesmo são atribuídos a ele. O paradoxo fundamental do estilo paranoico é a imitação do inimigo”, frase sábia do historiador americano Richard Hofstadter, em um ensaio publicado na revista americana Harper’s no ano de 1964. Estilo de fazer política que adota o modus operandi dos mesmos adversários políticos por eles denunciados, demonizados nas mídias sociais como aparelhadores do Estado para permanecer no poder. Chegando ao poder, no entretanto, tomam medidas drásticas muitas vezes à revelia de práxis democrática e interesses do Estado, expurgando opositores políticos de funções governamentais, incluindo aquelas notoriamente técnicas ou essenciais ao funcionamento da burocracia.
Políticos mundo afora estão chegando ao poder turbinados por uma inquietação difusa com a estagnação do poder de compra, a precariedade do emprego, a imigração, o multiculturalismo e a impunidade dos responsáveis pela crise financeira e a corrupção, sem falar das muitas disfunções das instituições dos três poderes. Eles se apresentam em campanhas eleitorais como uma caixa de ressonância das identidades, valores, dos temores e das aspirações daqueles que se sentem vitimados ou descriminados pela elite política ou partido no poder. Usando e abusando da retórica do medo, teorias da conspiração e a intolerância como um antídoto ao politicamente correto, o revanchismo torna-se um instrumento para o desmonte indiscriminado de políticas públicas implantadas por seus antecessores no poder.
O ideólogo do estilo paranoico de fazer política e guru da guinada para o extremismo político é Stephan Bannon, estrategista da campanha vitoriosa de Donald Trump e ex-dirigente do Breitbart News, um grupo que prega descaradamente uma plataforma de “nacionalismo branco” tingido de racismo, mas também de homofobia, misoginia, antissemitismo e islamofobia. Bannon comparou-se a Lenine: “Ele queria destruir o Estado, e é esse meu objetivo. Eu quero colocar tudo abaixo e destruir o establishment, ou seja, o Partido Democrata, o Partido Republicano e a imprensa conservadora tradicional”. O credo de Bannon e ensinamentos dos seus apóstolos influenciam desproporcionalmente decisões políticas de viés extremista, muitas delas defendidas pela Breitbard News e o movimento alt-right dos Estados Unidos.