Personalização da política externa, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena, em sua mais recente crônica “Personalização da política externa”, reflete sobre as relações dos Estados Unidos e Israel, diante da nova configuração política, após as últimas eleições. Palmarí também faz uma interface com a política externa do Brasil e sua relação com o EUA. Confira a íntegra do seu comentário:
Declarando que “as relações dos Estados Unidos são com Israel”, após os resultados das eleições, Presidente Trump sinalizou um distanciamento entre ele e o Primeiro Ministro Bibi Natanyahu. Declinando oferecer elogios ou palavras de apoio ao seu mais fiel aliado, demonstrou mais uma vez indiferença ou mesmo ojeriza àqueles que considera “perdedores”. A credencial de Natanyahu como “perdedor”, deve-se ao fato do seu partido não obter uma maioria parlamentar, para assegurar sua permanência como primeiro ministro e livra-lo de uma possível condenação por crimes de corrupção.
A reação de Trump serve como um alerta sobre os riscos de formular políticas
baseadas na permanência no poder de políticos, cuja amizade pessoal é o vínculo e fundamento para a formação de relações bilaterais. As relações entre o Brasil e Israel, foram descritos como resultado da “amizade pessoal” entre Bibi e Jair. A reorientação diplomática em relação ao complexo quadro do Oriente Médio, deve-se a uma consequência desse entendimento pessoal, à revelia dos interesses do Brasil na região.
Nas últimas semanas, outro governante se emaranhou em uma controvérsia envolvendo um pedido do Presidente Trump para investigar o filho do seu oponente para a presidência e compartilhar informações negativas com seu advogado pessoal, o questionável Rudy Giuliani. Escândalo que não sou abalou as relações bilaterais da Ucrânia, como também afetará negativamente o apoio do Partido Democrata contra a anexação de território ucraniano pela Rússia e apoio militar ao País.
A política externa do Brasil deve ser baseada em interesses nacionais e espírito de cooperação com a comunidade internacional. As competências do Ministério de Relações Exteriores (MRE) são definidas no artigo 33 do decreto nº 4.118, de 07 de fevereiro de 2002. Envolver-se em situações político-partidárias de outros países ou personalizar políticas externas, extrapolam as atribuições do MRE, uma receita tóxica de consequências desastrosas nas relações multilaterais e interesses comerciais do País.