Políticas públicas radioativas, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica “Políticas públicas radioativas”, o escritor Palmarí de Lucena chama atenção para um estudo universidade do México, apontando a contaminação de mulheres por material radioativo, décadas “depois do encerramento da mineração de urânio, nas suas reservas para armamentos nucleares”. E alerta para as novas diretrizes do governo Bolsonaro, indicando a retomada da mineração de urânio, que pode resultar em desastres para a população. Confira a íntegra de seu comentário:
Estudo da Universidade de New México revela que 25% das mulheres da Tribo Navajo e alguns dos seus filhos ainda apresentam altos níveis de material radioativo em seus sistemas, décadas depois do encerramento da mineração de urânio, nas suas reservas para armamentos nucleares. A história do Novo México é entrelaçada com o desenvolvimento do arsenal nuclear americano, desde a mineração do urânio, primeira explosão nuclear do projeto Manhattan ao eventual uso de bombas atômicas no Japão.
Da vitória dos Aliados em 1945 aos meados dos anos de 1980, milhões de toneladas de metal de urânio foram extraídas das terras da Nação Navajo, deixando listras cinzentas na superfície do deserto e um legado de doença e morte. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA identificou mais de 200 minas abandonadas, que requerem investigação e limpeza nos próximos cinco anos, incluindo compensação aos membros das comunidades indígenas Navajo e trabalhadores afetados pela radiação.
Na liberalização da exploração de recursos minerais e ampliação do programa nuclear brasileiro, o governo pretende retomar a mineração de urânio em território nacional. A Constituição garante o monopólio da União na sua exploração, apesar de manifestações a favor da quebra do monopólio e até mesmo a exploração de usinas nucleares pelo setor privado, a mudança requer aprovação de uma PEC pelo Congresso.
O governo autorizou a exploração da Mina do Engenho na Bahia em abril, condicionada a testes para verificar “o atendimento a requisitos de segurança das estruturas, sistemas e componentes, cuja falha ou mau funcionamento possa resultar em exposições indevidas à radiação para o pessoal da instalação ou membros da população em geral”. A gritante incapacidade do governo em evitar desastres no setor de mineração ou de proteger populações amazônicas da degradação ambiental causada por uso de mercúrio e outros minerais nocivos a saúde, nos alertam para o alto risco e custo da exploração de urânio e da expansão do programa nuclear brasileiro, como um todo.