Enfim, Lula livre… para que???, confira com Antônio Radical
Como de hábito, o Blog tem aberto espaço para o pensamento plural do leitor. Como é o caso, agora, do comentário “Enfim, Lula livre… para que???”, do militante do PSTU e sindicalista Antônio Radical. No texto, Radical faz ampla abordagem e contextualiza recente decisão do Supremo Tribunal Federal, para lembrar que, enquanto todos falam do ex-presidente, ora livre, poucos lembram “a situação da maioria pobre e negra que assolam as prisões de nosso país”.
Radical também afirma que, logo após ser solto, Lula assumiu uma estratégia, que foi a mesma adotada com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao renegar uma campanha pelo impeachment de Bolsonaro: “Contra FHC e também contra Temer. Deu certo contra o primeiro, mas contra o segundo chafurdou na lama: deseja “sangrar” o governo na sua impopularidade até as eleições para, nestas, conseguir chegar lá”.Confira a íntegra de seu comentário:
Em 7 de novembro deste ano, por 6 votos a 5, o STF decidiu que qualquer pessoa só poderá ser presa em definitivo, após todos os procedimentos estiverem encerrados, ou como diz a Constituição Federal desde 1988, “em trânsito e julgado”. Porém, este não era o entendimento da mais alta Corte Jurídica de nosso país até então, quando havia decidido, por mais uma vez, que as pessoas podiam ser presas após serem julgadas e condenadas depois da decisão em 2ª instância. Isso afetou muitos poderosos, é verdade, mas também manteve uma grande impunidade para a imensa maioria dos pobres em nosso país – a maioria pobres e negros, vivendo na periferia de nossas cidades -, que sequer tiveram julgamento mas seguem presos nas cadeias espalhadas pelo Brasil, conforme várias estatísticas recentes demonstram. Porém, a mídia só visualiza Lula, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e outros “grandões” envolvidos na “LavaJato” e demais grandes escândalos de corrupção que temos assistido em tempos recentes para fazer estardalhaço sobre este assunto. Nenhuma linha, pra variar, sobre a situação da maioria pobre e negra que assolam as prisões de nosso país. Infelizmente, uma postura coerente de uma mídia a serviço de uma elite branca, rica e a serviço dos poderosos!!!
Voltando ao assunto: em 7 de novembro, o STF tomou a decisão acima descrita. Um dia após, em 8 de novembro, em Curitiba, o ex-presidente Lula (PT) foi solto de sua prisão após 580 dias. A bandeira “Lula Livre” passava a não existir mais e conseguia, enfim, seu maior intento. A maior liderança dos petistas e de seus “satélites” estava, finalmente, solta para voltar a comandar sua legião de seguidores/as pelo país inteiro e voltar a fazer o que nunca deixou de fazer, mesmo dentro da carceragem paranaense: atuar na política partidária e nacional. Agora, com a diferença de que poderá fazer isso pelo país, como sempre fez. Mas, como??? Eis a questão!!!
Em 7 de abril de 2018, quando Lula foi preso pela PF, o país ainda estava numa fase pré-eleitoral. Cogitava-se a hipótese de que Lula poderia ser o candidato do PT nas eleições presidenciais contra Bolsonaro que, como se viu, seria o candidato eleito meses depois, pelo PSL, partido que hoje, não é mais seu. Estamos, portanto, num país que permanece polarizado de lado a lado, afundado numa crise econômica (por mais que alguns não queiram ver), cuja tendência é que isso aumente a cada dia. Porém, a pergunta que não quer calar é: o movimento dos trabalhadores se organizará, pela base, contra tudo isso ou “empurrará com a barriga” tal situação até as eleições??? E o que Lula tem a ver com isso???
Para respondermos a estas questões, vamos recorrer ao próprio Lula após sua saída da prisão em Curitiba. No dia 11 de novembro, a Folha de São Paulo publicou uma matéria aonde o petista afirma que “(Lula) tem estimulado o lançamento de candidaturas próprias nas capitais e cidades onde existe a possibilidade de segundo turno, mas sem afastar a hipótese de coligação com candidatos de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL)”.https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/solto-lula-estimula-candidatos-proprios-mas-nao-descarta-aliados-do-centrao.shtml).
Alguns defensores de Lula podem achar razoável tal afirmação, mas vejamos o que segue quando ele faz a seguinte afirmação na mesma matéria: “(Na visão de Lula,) a costura de alianças no primeiro turno está permitida até mesmo com parte dos partidos do chamado centrão, desde que reservado espaço em seus palanques para a defesa do legado petista”(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/solto-lula-estimula-candidatos-proprios-mas-nao-descarta-aliados-do-centrao.shtml).
Para quem não sabe ou não se lembra ou já “esqueceu”, o centrão é um bloco partidário formado no Congresso Nacional, que apóia o governo Bolsonaro (portanto, contra os trabalhadores), formado por MDB, PP, PL e Solidariedade. Quando Lula fala em “parte” destes partidos, na verdade, resgata a ideia dos “setores progressistas” que tanto ele quanto a maioria do PT defendiam antes de chegarem ao governo em 2002 como tática eleitoral. Isso prova que, seja Lula ou a maioria do PT (para não dizer o PT como um todo), não aprenderam (ou não quiseram aprender) nada com as lições que a História lhes deu durante todos esses anos.
Para fechar com “chave de ouro” esse novo ciclo de “Lula Livre”, no dia seguinte à essa declaração, Lula fez a seguinte declaração, desta vez divulgada pelo “Blog da Cidadania”. Nesta ocasião, o petista afirmou “que não vai encampar a defesa pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro”. Lula, segundo a matéria, também “diverge da posição de caciques e parlamentares do partido que, a cada nova crise do Governo, falam em “fora Bolsonaro” (https://blogdacidadania.com.br/2019/11/lula-nao-quer-impeachment-de-bolsonaro/).
Com isto, Lula demonstra ser contrário não apenas à palavra de ordem que começa a vir de setores organizados do povo organizado do “Fora Bolsonaro” (que revela, de certa maneira, uma insatisfação com o governo e uma disposição de luta contra o mesmo), como também contra uma luta parlamentar contra esse mesmo governo, quando se posiciona pelo NÃO ao impeachment, que é uma ferramenta tipicamente burguesa. Lula revela, com isto, que tem como estratégia contra o governo Bolsonaro a mesma que tinha contra FHC e também contra Temer. Deu certo contra o primeiro, mas contra o segundo chafurdou na lama: deseja “sangrar” o governo na sua impopularidade até as eleições para, nestas, conseguir chegar lá.
Organizar a classe contra as “reformas” feitas por Bolsonaro e chamar a classe para lutar contra elas e chamar uma greve geral e lutar também contra as privatizações já anunciadas??? NUNCA que Lula se disporá a fazer isso!!! Ele poderá fazer discursos contra isso, aqui e acolá, mas organizar a classe contra isso, é outra história. Lula NÃO fará isso, pois ele e a direção do PT defendem este projeto, pois quando estiveram no governo fizeram isso. Será que alguém aqui já esqueceu o que Lula e o PT protagonizaram no governo durante o período que por lá estiveram??? Os vários leilões de petróleo??? A criação da EBSERH??? O “bolsa banqueiro”, no auge da crise econômica mundial, para salvar os bancos no Brasil??? As “reformas da previdência”, feita por Lula e Dilma??? Citamos algumas das coisas feitas neste período para refrescar a memória de alguns. Tudo isso tendo gente do centrão como ministros de Lula e Dilma na Esplanada em Brasília atacando nossa classe e sendo defendida pelos “satélites” do PT em todo o Brasil e classificando àqueles/as que criticavam tais coisas como “agentes da direita”. Eis o resultado em 2019…….
Enfim, Lula está livre. O PT e seus “satélites” conseguiram seu intento. Nós também defendemos sua libertação, pois sempre defendemos que Lula tenha, assim como qualquer um/a, tenha um julgamento regular e justo.
Lula está livre, finalmente. Mas, para quê???