Germes ameaçadores, por Palmarí de Lucena
Em sua primeira crônica do ano, o escritor Palmarí de Lucena reflete sobre a origem dos antibióticos, os avanços ao longo das últimas décadas, e, finalmente, como vem aumentando a resistência aos modernos medicamentos, impondo a importância de criar novos paradigmas para novos desafios na medicina. Confira a íntegra de “Germes ameaçadores”:
Em 1928, o ano da descoberta da penicilina, os Estados Unidos viviam um período de euforia econômica e consumismo exagerado. A Grande Depressão estava prestes a acontecer. Descoberto por Dr. Alexander Fleming, o antibiótico transformou-se em uma cura rápida e eficiente, para doenças infecciosas que haviam consumido milhares de vidas durante a Primeira Guerra Mundial. A severidade das doenças que presenciara nos campos de batalha, não foi nem a motivação, nem a propulsora da importante descoberta que fôra atribuída pelo cientista ao acaso, quando afirmou que:
“ muitas vezes alguém encontra o que não está procurando […], eu certamente não planejava revolucionar toda medicina com a descoberta do primeiro antibiótico”.
Novos desafios continuam aparecendo décadas após a descoberta da penicilina. Germes estão ficando mais resistentes a antibióticos comuns, laboratórios produzido novos versões da droga estão perdendo dinheiro e o desenvolvimento de novos antimicrobianos está estancado. Industrias farmacêuticas estão concentrando esforços em produtos que dão retorno mais rápido aos seus investimentos, notadamente doenças crônicas em que o paciente precisa usar um medicamento de forma contínua. Gigantes da indústria, como Novartis e Allegan, abandonaram o setor completamente, outras correm o risco de insolvência. A ONU estima que o número de fatalidades por germes resistentes a antibióticos comuns, pode atingir dez milhões de pessoas pelo ano de 2050.
A solução da crise não pode ser relegada aos caprichos e fantasias do mercado, necessita-se urgentemente uma reposta da comunidade internacional. Opções de políticas públicas como o aumento de reembolso de gastos com novos antibióticos, estocagem de drogas eficazes contra germes resistentes a antibióticos comuns, financiamentos de pesquisas de instituições como a FIOCRUZ e incentivos fiscais para “startups”, formariam a espinha dorsal de uma resposta global a uma crise, que poderia trazer incalculáveis consequências a saúde da população e ao desenvolvimento.
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