Políticos loucos, loucos políticos. Confira com Palmarí de Lucena
Interesse abordagem do escritor Palmarí de Lucena em sua crônica “Políticos loucos, loucos políticos”, em que medita sobre a conhecida Teoria do Louco, em que o político, literalmente, dá uma de doido para confundir os adversários. Palmarí lembra o caso Nixon, para encerrar a Guerra do Vietnã, e, da mesma forma, cita o atual presidente Trump e sua retórica do absurdo. Confira íntegra do comentário:
Quinhentos anos atrás, Niccolò Machiavelli escreveu que às vezes é “muito sábio simular loucura”, surgindo dai a moderna Teoria do Louco, ou seja, a tese de que a mostra deliberada de um comportamento aparentemente irracional, uma simulação, possa ser crível pela parte opositora, fazendo com que o inimigo pense que está tratando com indivíduo mentalmente instável. Richard Nixon é o moderno poster-boy da Teoria.
Concebida por Nixon como uma peça importante da estratégia para negociar o fim da guerra do Vietnã, sugerindo ao seu chefe de gabinete que usassem a seguinte abordagem: “Iremos somente dizer algumas palavras, pelo amor de Deus, vocês sabem que Nixon está obcecado com o comunismo […] Não poderemos contê-lo quando ficar com raiva e ele tem a mão sobre o botão nuclear”. Ameaça intempestiva de um líder poderoso, adocicada com promessas de ajuda, caso sucumbissem às suas demandas.
Já Trump, acredita na imprevisibilidade estratégica como uma alavanca para ganhar superioridade em negociações. Declarou em 2016, “Nós [Estados Unidos] devemos ser mais imprevisíveis como uma nação “. Enquanto Nixon usou a teoria para forçar inimigos à mesa de negociação, Trump é mais imprudente em suas ameaças. Sanções económicas ou uso do poderio militar americano são postadas no Twitter contra inimigos, afetando aleatoriamente países amigos, sem consideração ou análise da possibilidade delas se transformarem em bumerangues, contra os interesses americanos.
Podemos discutir e até encontrar algo positivo na Teoria do Louco, entretanto o pensamento de ter pessoas instáveis em posições de poder é assustador. Sofremos de fadiga das instituições democráticas, o crescente cinismo e descrença na credibilidade e estabilidade dos nossos líderes, pode mudar a natureza da nossa democracia. Políticas públicas motivadas por ameaças, simulação de loucura ou imprevisibilidade estratégica, não devem servir como base de confluência ou alinhamento automático com líderes cuja
imprudência e egocentrismo são ameaças reais ao multilateralismo e a paz mundial.