O Blog abre espaço para a psicanalista Mirna Agra Maracajá, que tem defendido a aplicação do atendimento online a pacientes no campo da psicologia, nesses tempos de coronavírus, em que está desaconselhado o contato físico. Lembra Mirna que não chega a ser novidade o atendimento à distância, mas, agora, dada a excepcionalidade do comento, torna-se um instrumento valioso para ajudar quem precisa.
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No Brasil, o atendimento on-line, no campo da Psicologia não é nenhuma novidade. No entanto, parece ser uma questão nova que se coloca para os psicanalistas, embora muitos psicanalistas, em situações de exceção, já tenham se servido do atendimento on-line. Agora, em tempos de distanciamento social, a exceção virou regra.
Há muita resistência (e aí é bom lembrar que Lacan diz que a verdadeira resistência está do lado do analista), dúvidas, críticas, preocupações. Como se dá a transferência? Como manejar o pagamento? Como proceder com crianças e psicóticos? A principal crítica é a ausência de corpo, já que seria necessário um corpo para encarnar os significantes da transferência.
Em live, transmitida em suas redes sociais, o psicanalista Antonio Quinet, propôs que deixemos essa dualidade presencial x on-line de lado, uma vez que a presença do analista fica garantida pelo seu ATO. Para garantir a existência do discurso do psicanalista, na civilização, é preciso não recuar diante do Real avassalador. Houve um tempo em que os psicanalistas recuaram diante da psicose, da perversão, dos atendimentos nas instituições, fora das quatro paredes do consultório.
A ortodoxia, na Psicanálise, existe e faz parecer que o inconsciente não sofre os efeitos da civilização. Para existir análise, precisa existir o desejo do analista, que não é um desejo qualquer, mas como diz Lacan, na Nota Italiana, é um desejo inumano, que precisa manter distância do ideal depositado no analista. Muitos estão em busca de um manual, que lhes diga como fazer. Ora, a Psicanálise não é uma prática standard, é singular para cada sujeito.
Os princípios que a norteiam são os mesmos, independente se no divã, pelo skype ou no meio da rua. A principal questão deve ser com a formação do psicanalista, pois é dela que advém a sua ética. Para os aflitos que perguntam como proceder em uma sessão on-line, eu respondo que se submetam a uma, ou seja, sigam suas análises, com ou sem quarentena. Menos afobação e mais análise, por favor. Não se concebe analista sem trabalho pessoal de análise. Se existe alguma especificidade na qual o lugar do analista deve se situar é a do desejo.