Bolha da dívida corporativa, por Palmarí de Lucena
Como a pandemia do coronavírus irá impactar a economia mundial, com seu evidente contágio financeiro, especialmente em países de economia mais frágil? Esse é o tema central da crônica do escritor Palmarí de Lucena. “Ainda não entramos em uma recessão mundial, entretanto, estamos diante de uma pandemia imprevisível, com sérios efeitos na atividade econômica”, diz Palmarí. Confira a íntegra de seu comentário “Bolha da dívida corporativa”…
COVID-19 ameaça causar contágio financeiro, em uma economia mundial com debilidades diferentes daquelas prevalentes na véspera da crise global, doze anos atrás. O mundo hoje está tão endividado ou talvez mais perigosamente endividado, desde a grande crise de 2008. Maiores e mais arriscados níveis de endividamento migraram de famílias e dos bancos dos EUA, após serem regulados severamente, para grandes corporações, pequenas e médias empresas mundo afora.
Políticas de dinheiro barato ditadas pelo Federal Reserve, replicada por bancos centrais, foram desenhadas para manter crescimento econômico e estimular recuperação pós-crise de 2008. Em vez de alcançar estes objetivos, grande parte do dinheiro assim disponibilizado, foi investido em ações, títulos e crédito para empresas sem lucratividade. Aproveitando-se do relaxamento das regras, crédito foi estendido para empresas problemáticas, algumas incapazes de pagar até os juros de suas dívidas. Hoje, o mercado de dívida corporativa de $16 trilhões de dólares, tem uma fartura de empresas com problemas de liquidez, consequência de um logo período de juros baixos e investimentos em produtos financeiros oferecendo mais retorno, com maior risco.
Sinais de estresse de endividamento estão surgindo, principalmente nos setores de transportes, hospitalidade, indústria automobilística e petróleo, sem dúvida o mais vulnerável de todos. Ainda não entramos em uma recessão mundial, entretanto, estamos diante de uma pandemia imprevisível, com sérios efeitos na atividade econômica, impactando as grandes corporações e ao mesmo tempo sobrecarregando mercados financeiros, com empresas a borda da falência. Sucesso do apoio financeiro para os setores fragilizadas pela pandemia, depende em grande parte da contenção do COVID-19, que tem grande potencial de causar o fracasso de empresas endividadas, deprimir o mercado e aumentar o risco de um amplo contágio financeiro mundial.