O calvário sino-paraibano, por Gal Gasset
O Blog abre espaço para a pensadora paraibana Gal Gasset (pseudônimo), que faz uma abordagem sobre as ações do poder público no enfrentamento ao coronavírus. Gal versa sobre os recursos recuperados pela Operação Calvário, o dinheiro repassado pelo governo Federal, a incrível destinação de R$ 7,5 milhões da reserva de contingência do Estado para propaganda no governo João Azevedo e, por fim, estranha que, enquanto na Itália, os artistas fazem performance gratuitas, na Paraíba de gestão girassol o governo lance um edital para pagar pelas apresentações. Confira a integra do comentário “O calvário chino-paraibano”:
Nessas terras paraibanas, a absurdidade e o non sense dão a tônica da crônica política local. É verdade que isso não se difere da cena nacional e mundial, enfim. De toda forma, ainda causa-nos espécie a desfaçatez dos socialistas girassóis que há 10 anos dominam o aparelho estatal. O Governo Federal destinou mais de R$ 600 milhões para que os estados usem no combate à Febre de Wuhan, também conhecida por Covid-19. A Paraíba recebeu a primeira parcela, de R$ 11,6 milhões, para esse fim. Pelo histórico recente de caixas de vinhos, mangas de Sousa e botijas enterradas (senhas para propina), é bom que se fiscalize com rigor a aplicação desse recurso, que, sendo bem aplicado, poderá atenuar os efeitos da perversa corrupção instalada no setor da Saúde, pra não falar da Educação e outras cositas más.
O Ministério Público da Paraíba (Gaeco) destinou R$ 855 mil, retomados da organização criminosa desbaratada pela Operação Calvário, para a aquisição de 15 respiradores a serem instalados em hospitais de João Pessoa e Campina Grande. Por sua vez, o STJ destinou ao Ministério da Saúde R$ 3 milhões, montante devolvido por Daniel Gomes da Silva. Daniel foi gestor da Cruz Vermelha (RS) e comparsa dos irmãos Coutinho da Paraíba, conforme ações penais, delações e incontáveis provas materiais. O dinheiro será usado na compra de equipamentos para o combate ao vírus chinês. Mais R$ 399 mil, devolvidos judicialmente por Livânia Farias, ex-membro da orcrim e colaboradora, foram aplicados na aquisição de 2.660 testes de antígeno por imunofluorescência ECO-F para Covid-19. É uma parte bastante modesta diante dos preliminarmente estimados R$ 134,2 milhões subtraídos dos hospitais, escolas e equipamentos de segurança dessa sofrida população.
Em meio ao horror vivido no mundo todo, com a ronda inquietante da pandemia que já levou mais de 50 mil pessoas ao encontro da indesejada das gentes (mais dura do que caroável), eis que o governo de João Azevedo, eleito sob as bênçãos da Cruz Vermelha, brinda-nos com a aplicação de R$ 7,5 milhões para a publicidade institucional (Diário Oficial da Paraíba de 28/02/2020). A operação de descontingenciar recursos em reserva só foi possível com a oportuna decretação do estado de calamidade pública. Fato é que apareceram na cidade outdoors com mensagens para que as pessoas fiquem em casa, mas, fina ironia, se isoladas em seus lares, como veriam a publicidade nas ruas?
Mas não para por aí não. Foi publicado edital de chamamento de 70 artistas para o projeto “Meu Espaço”, visando “cultura, arte, entretenimento e atividades formativas para a população que se encontra em quarentena”. O que os italianos fizeram de forma espontânea e gratuita, por aqui querem fazer não sem faturar em cima dos parcos recursos, em detrimento não apenas da aquisição de equipamentos, material de proteção e medicamentos, mas também da remuneração dos profissionais de saúde que estão na linha de frente e em perigo direto e real.
Em suma, dilapidam o que é essencial: sistemas de Saúde, de Educação e de Segurança, e entregam o que é dispensável: propaganda estatal e apresentações artísticas que não temos interesse em ver, pelo menos não dessa forma e nesse contexto.