PENSAMENTO PLURAL Depois da pandemia, a guerra. Por Laura Berquó
Um dos mais recentes textos da advogada Laura Berquó traz uma reflexão sofre a guerra, em tempos de coronavírus. Para Laura, o termo guerra está sempre na ordem do dia, sobretudo diante do comportamento belicoso de governos especialmente com respeito a minorias, na América do Sul e, de modo especial, no Brasil. Confira a íntegra de seu comentário “Depois da pandemia, a guerra”:
Um dos meus assuntos fixos é a guerra. Porque metade de mim vem da guerra. Metade da minha origem está na guerra. Se meu avô não tivesse ido servir como combatente em 1944 na Itália não teria conhecido minha avó e minha mãe não teria nascido lá. Simples assim. Por isso, metade de mim é produto da guerra.
É um assunto recorrente e cresci ouvindo história sobre a guerra. Na sala da minha avó, que já era viúva quando nasci, havia uma foto do meu avô com o uniforme de combatente. Minha avó falava da terra dela e lógico: da guerra.
Recentemente li em trabalho monográfico de Bárbara Amaral, citando o antropólogo Carlos Azevedo e a sra. Iracyr Silva, que o anjo da morte no cemitério da Boa Sentença seria em homenagem às viúvas da guerra de 1930 na Paraíba.
Apenas para puxar à memória a guerra mais próxima da vivência dos paraibanos. Não acredito que tenhamos paz tão cedo. Tudo indica que estamos caminhando para confronto e disputas após a pandemia em busca de riquezas na terra alheia o que já estava ocorrendo com a interferência em vários governos na América do Sul se desenhando desde 2013, concretizando por meio de golpes anos depois.
Os discursos contra os povos indígenas e suas lideranças como feito por Bolsonaro na ONU, desmerecendo o ativismo indígena, as mortes crescentes de lideranças indígenas no Brasil, a tomada de terras indígenas em países sul americanos, conflitos no Equador, o golpe neopentecostal com o exorcismo da cultura indígena na Bolívia, tudo em áreas com recursos minerais de interesse de multinacionais da área do petróleo e tecnologia têm ocorrido em nosso continente e vai aumentar após a pandemia.
Não me assusta o convite para o suicídio coletivo em tempo de coronavírus em propor a saída do isolamento já que o genocídio indígena ocorre todos os dias e muitos não se dão conta. Agora vão mexer com os quilombolas do Maranhão.
Então, a guerra pra mim sempre estará na pauta do dia. Só não entendo o porquê de gente que não aguenta quarentena e greve de caminhoneiro apoiar presidente armamentista. Pensa que numa guerra a economia não quebra, não?