A SAÍDA DE MORO Quando tudo que é sólido se desmancha no ar
Não se trata de questionar os 57 milhões de votos que levaram Bolsonaro à Presidência. Ele conseguiu uma façanha dupla naquela eleição. Primeiro, aglutinar em torno de si forças conservadoras que, até então, existiam mas não tinham uma organicidade. Depois, o feito de ter atraído a forte rejeição ao lulopetismo. E, claro, a facada que tomou contribuiu muito para o desfecho das urnas.
Bolsonaro conseguiu formar um ministério de boa qualificação, onde pontificavam especialmente Sérgio Moro (Justiça), Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio Gomes (Infraestrutura), dentro da linha ideológica que ele propunha apresentar ao País e recebeu o beneplácito dos brasileiros. Tinha chances de dar certo. Mas, desde os primeiros momentos, revelou uma característica que só iria se acentuar com o tempo: a incrível vocação para a autofagia.
Nesse período, foi a oposição a ele próprio e criou todas as crises que seu governo enfrentou. Num espaço de dez dias, por exemplo, conseguiu implodir o ministro Mandetta (Saúde), que até nem era dos melhores até a pandemia, quando se destacou pelas medidas restritivas. Na sequência, levou ao cadafalso Paulo Guedes, ao anunciar um pacote de medidas econômicas, sem a participação do ministro. Guedes foi desmoralizado. E calou. Até agora.
Por fim, Bolsonaro foi na jugular de Moro, ao desmoralizar sua autoridade exonerando o diretor da Polícia Federal por motivações politicas, segundo o próprio ministro, que, diante da fritura, pelo menos, teve a ombridade de pedir pra sair. Mas, enfim, não se trata de torcer para o governo dar errado. Porque, quem vai pagar pelo desastre somos todos nós, mas o fato é que, claramente, o que era (aparentemente) sólido está se desmanchando no ar.
A impressão é que o governo, que, a rigor nem tinha começado pra valer, principia a acabar.