PENSAMENTO PLURAL A bela e a fera, por Gal Gasset
Em sua mais recente crônica, “A bela e a fera”, Gal Gasset se debruça sobre o drama enfrentado pela ex-primeira-dama Pâmela Bório para tentar manter a guarda de seu filho. Gasset traça um histórico do envolvimento de Pâmela com o ex-governador Ricardo Coutinho e resgata o quanto ela tem enfrentado de perseguições, desde que pediu o divórcio até a mais recente decisão da Justiça que devolveu a guarda da criança ao ex-governador, mesmo depois dele ser preso e passar a usar tornozeleira eletrônica. Confira a íntegra do comentário:
Pâmela Monique Cardoso Bório, ex-primeira-dama da Paraíba, hoje vive o drama de tentar assegurar a guarda do único filho, de 10 anos de idade. Ela nasceu em Senhor do Bonfim (BA), é jornalista, com mestrado em comunicação, e atuou como apresentadora de TV. Pâmela e Ricardo Coutinho começaram a namorar quando ele ainda era prefeito de João Pessoa e ascendia ao governo do estado. Fato notório, ela é muitos graus de beleza acima de Ricardo, mas isso não foi impeditivo para o romance. Rolou a química, e eles se casaram, em 2011, na mesma cerimônia que batizou o pequeno rebento, sob as bênçãos do então Arcebispo Dom Aldo Pagoto (in memorian).
No início do segundo mandato de Ricardo, em 2015, houve a dissolução do casamento. Pâmela tentou seguir a vida, com seu trabalho, mas as coisas se complicaram. Ela sofreu perseguições e sua imagem foi atacada pela imprensa marrom (no caso, laranja, a cor do PSB). Certo dia, ela foi conduzida à força para a Granja Santana, residência do governador, onde foi espancada e teve os dentes quebrados pela irmã de Ricardo, na frente da criança. Também subtraíram o telefone celular e depois deturparam fotos dela. Ela foi demitida do emprego de dez anos em empresa privada de comunicação e não recebeu apoio financeiro do ex-marido. Por fim, Pâmela perdeu o poder de mãe, tendo a guarda do menor retirada em favor de Ricardo. Um ataque desses a uma mulher seria passível de solidariedade das outras mulheres, mas qual o quê! Os movimentos feministas apoiaram o patriarcado e se calaram vergonhosamente.
Em 2018, Pâmela foi candidata a deputada federal e obteve 11.120 votos, alcançando a segunda suplência do mandato eletivo. Depois da diplomação, o PSB ajuizou um pedido de cassação de diploma e a suplência foi extinta, pelo motivo de ela ter sido cônjuge do então governador até 2015, sendo inelegível por isso. O TSE confirmou o veredicto. Na véspera das eleições, ela perdeu o irmão Sérgio Henrique, aos 38 anos, de forma trágica. Ele foi vitimado por falta de assistência adequada pela ausência de aparelhos médicos no Hospital de Emergência e Trauma em João Pessoa, administrado pela Cruz Vermelha, aquela da Operação Calvário.
A bela também sabe ser fera. Ela contou às autoridades coercitivas fatos nebulosos que havia testemunhado, sendo a primeira pessoa a denunciar as práticas não republicanas do grupo político Girassol. O conteúdo dos depoimentos foram depois confirmados pela Operação Calvário, que é organizada pelos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Paraíba (MPPB), e tem por objetivo investigar atos de corrupção na gestão pública. O esquema criminoso desvendado na Paraíba é similar ao que foi instalado por Sérgio Cabral e Pezão no Rio de Janeiro. A ex-primeira dama carioca, Adriana Anselmo, está em prisão domiciliar, com a alegada justificativa de cuidar dos filhos. Como bem pontuou a advogada Laura Berquó, se Pâmela tivesse compactuado com a quadrilha, hoje estaria na mesma situação de Adriana, condenada, mas exercendo a maternidade no aconchego do lar.
Em dezembro de 2019, o irascível Ricardo foi preso no retorno de viagem internacional, no âmbito da 7ª fase da Calvário, intitulada de “Juízo Final”. Na oportunidade, Pâmela fez um apelo para encontrar o filho, cujo paradeiro era desconhecido. A Justiça então lhe cedeu a guarda provisória do menor. Quatro meses depois, outra decisão judicial determinou o retorno da guarda ao genitor. Pâmela recorre da decisão, com a justificativa de que ela e o filho estão em isolamento social e com sintomas da Covid, o que enseja cuidados maternos. Ela insiste ainda no perigo de Ricardo romper a tornozeleira eletrônica e fugir com a criança para o exterior, visto que recursos financeiros e ousadia não lhe faltam. Com apreensão, as pessoas de bem esperam um desfecho digno para Pâmela e seu filho.