O CASO ROBERTO Quantos pesos e quantas medidas se podem usar em nome da liberdade de expressão?
Claro que Roberto Cavalcanti errou. Não porque eu, ou qualquer outra pessoa, julgue assim. Ele próprio sabe que errou. E tanto sabe, que, momentos depois, cuidou de pedir desculpas pelo tom agressivo, violento mesmo, do que seria o desabafo de um empresário e suas agruras em tempos de pandemia. Até nem adiantou, porque o estrago já fora feito, afinal é inaceitável a linguagem do apedrejamento contra profissionais de Imprensa por externarem suas opiniões.
O respeito ao contraditório é da essência da democracia. Um estado democrático somente se sustenta com a intocabilidade da liberdade de expressão assegurada a todos, inclusive a ele, Roberto, (por que não?) o direito de também criticar, como cidadão, quem tem opinião divergente da sua. Não, obviamente, nos termos que usou, de viés antidemocrático, ainda mais sendo ele proprietário de uma empresa de comunicação. Não apenas ter sua opinião, mas também ser responsabilizado por elas.
Mas, uma pergunta começa a inquietar: por que muitas dessas vozes que agora se levantam para, até compreensivelmente, censurar o destempero do empresário, silenciaram quando vários jornalistas da Paraíba foram moralmente apedrejados por um certo ex-governador, recordista nacional de processos e intimidações contra profissionais de Imprensa?
Não apenas processos. Também ataques sistemáticos em entrevistas. Ofensas que visavam expor os jornalistas, instigar os arreganhos de sua matilha e descredenciar os profissionais aos olhos da opinião pública. Afora, é claro, as instâncias que exerceu junto a empresas de comunicação para, no modo fascista, forçar demissões e tentar levar os profissionais ao ostracismo, precocemente. Os que foram desempregados sabem muito bem.
E, até onde a vista alcança, foram poucas (na verdade, pouquíssimas) as vozes, inclusive sindicais, que se levantaram para denunciar as perseguições aos profissionais de Imprensa. O silêncio, na realidade, foi bem eloquente. Depois, se viu o que ocorreu com esse paladino da moralidade, que perseguiu profissionais por denunciarem seus delitos. Foi preso. Hoje, usa tornozeleira. E, como todos sabem, não foi exatamente por ser inocente. A verdade, enfim, tirou sua máscara.
Então, diante de todo esse episódio, há que se indagar: quantos pesos e quantas medidas se podem usar em nome da liberdade de expressão?