PENSAMENTO PLURAL – COVID-19 e luta de classe, por Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica “COVID-19 e luta de classe”, o escritor Palmarí de Lucena faz uma digressão sobre como a pandemia atinge de forma desigual as diferentes classes sociais. “É razoável concluir, que o apoio daqueles menos expostos ao coronavírus é motivada por interesses econômicos, enquanto a classe trabalhadora é relegada a expor-se ao risco de contágio”, observa Palmarí. Confira a íntegra de seu comentário:
É fácil de formar uma opinião sobre medidas de distanciamento social, enquanto recebermos informações precipitadas ou deliberadamente falsas, através de mídias sociais controladas por fontes direitistas, tuites e postagens oficiais. Governos negacionistas da chamada Aliança de Avestruz, estão marchando em ordem unida pela reabertura do país a qualquer custo, enquanto a maioria dos países querem manter tudo fechado até o achatamento da curva pandêmica. Existe também uma clara divisão entre elites abastadas, contente de estar no conforto de suas casas conduzindo suas funções através do Zoom e outros aplicativos e milhões de pessoas arriscando a saúde para exercer funções presenciais em fábricas, construções, hospitais, comércio ou escolas
Surpreendentemente, diferenças de opinião sobre medidas sanitárias não aparentam ser estimuladas por partidarismo convencional ou viés regionalista, o que estamos presenciando é uma luta de classe sobre medidas de isolamento. A classe trabalhadora possivelmente a mais prejudicada por tais medidas é, ao mesmo tempo, mais inclinada em apoia-las. Enquanto oposição ferrenha as medidas sanitárias concentram-se em pessoas com menor risco de perder empregos ou fontes de renda e o privilégio de trabalhar no conforto de suas casas, sem sofrer perdas salariais devastadoras.
Presidentes Trump e Bolsonaro insistem que seus países sejam reabertos, correndo o risco de aumento de infecções ou de uma segunda onda de COVID-19. O americano afirmou em março que: “Não podemos permitir que a cura seja pior do que o próprio problema”, bordão que se transformou no mantra do populismo bolsonariano e o pilar de políticas públicas, que subestimam a seriedade da crise sanitária e impacto devastador nas classes menos favorecidas da sociedade, a maioria do povo brasileiro.
Somos expostos diariamente a uma dicotomia preocupante entre imaginação e realidade. Imagens icônicas de protestos contra o fechamento da economia, não mostram carreatas de veículos populares, pôsteres improvisados ou heterogenia de vestimentas de protesto. Uniformes da seleção brasileira e parafernália verde-amarelo, paramentam uma turba motivada com palavras de ordem, com resquícios saudosistas de governos autocráticos e mensagens contra as instituições do Estado Democrático de Direito. É razoável concluir, que o apoio daqueles menos expostos ao coronavírus é motivada por interesses econômicos, enquanto a classe trabalhadora é relegada a expor-se ao risco de contágio nas suas comunidades e trajeto para seus lugares de trabalho.
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