PENSAMENTO PLURAL O mundo é visto pela janela de casa que te permite sonhar, por Sandra Moura
O Blog abre espaço para a arquiteta e urbanista Sandra Moura, com inúmeros trabalhos reconhecidos e premiados pela ousadia e criatividade. Neste texto, Sandra propõe, nesses tempos sombrios de pandemia, como as pessoas devem conferir importância ao ressignificado de suas casas visando aprimorar a “experiência existencial do ser humano”. Ao abordar essas possibilidades, então enfatiza a importância dos cinco elementos que “remetem ao ser humano” e sua condição essencial de viver. Confira a íntegra do comentário…
Para estarmos aptos a criar durante essa quarentena, alinhar o nosso corpo à mente é essencial.
Pensando nesse momento em que vivemos, ressignificar nossa casa e nossa existência nela tornam-se fundamental. Como arquiteta, creio que precisamos investir em espaços autênticos voltados para a experiência existencial do ser humano. Nesse sentido, podemos começar aguçando os cinco sentidos com elementos diferenciados que remetem o ser humano à condição essencial de promover bem-estar, satisfação, segurança e conexão.
Os materiais utilizados no espaço, portanto, devem dialogar e estimular o usuário à sensação de pertencimento. Afinal, diversas partes da casa possuem ressonância com o corpo humano. Além disso, precisamos produzir conexões visuais e físicas que nos remetem a sensações de tranquilidade e que nos tornem conscientes das nossas necessidades emocionais, físicas e psicológicas.
Então, para estarmos aptos a criar durante essa quarentena, alinhar o nosso corpo à mente é essencial. Todas as manhãs, por exemplo, realizo o meu momento de imersão comigo mesma. Acordo agradecendo e medito para buscar consciência do que está acontecendo na minha mente a fim de ter uma expansão de pensamentos.
Também procuro ler a palavra (bíblia) como um alimento para o espírito e logo após me preparo para exercitar o corpo. Nesse início do dia, ainda busco ter insights criativos refletindo a criação como algo mais amplo onde nos inspiramos em várias ações e elementos: na natureza, na leitura de um livro, no escutar de uma música, na percepção da arte ou numa aula interessante sobre o Ócio Criativo, do filósofo Domenico Di Masi.
Outra nova situação inusitada é saber é trabalhar em casa. A equipe do meu escritório foi pega de surpresa pois a maioria das pessoas não tinham uma estrutura home office na sua casa. No meu caso, tenho este espaço com uma estante abarrotada de livros e uma coleção de carros em miniatura do meu marido. E meu atendimento com os clientes se dá através de instrumentos tecnológicos como o Zoom e o Skype, que ajudam você a compartilhar tela, apresentar projetos e dialogar com mais de dez pessoas ao mesmo tempo.
Nesse momento tão difícil, portanto, devemos focar nos aprendizados pessoais e profissionais dentro de casa. Não precisamos, por exemplo, perder tempo no trânsito diariamente e podemos ter uma elevada produtividade. Para uma ideia melhor, todos os dias, às oito horas, a nossa equipe se reúne on-line, apresenta os seus trabalhos, discute novos projetos e sugere insights criativos. Aprendemos que não necessitamos de deslocamentos desnecessários já que podemos realizar tudo com as novas tecnologias.
Mas volto a enfatizar nosso lado pessoal. É hora de cuidar do nosso interior, pois a vida é volátil, complexa, ambígua e incerta. Precisamos avaliar o mundo e dar saltos para não ficarmos presos onde nos encontramos. Passaremos por frustrações, mas o importante é focar nas nossas forças para aprender a cooperar, liderar, interagir, criar e se adaptar ao novo, pois nossos traços pessoais e nossas habilidades cognitivas, juntas, irão determinar o nosso futuro de florescimento humano.
Diante desse cenário, podemos pensar que existem vários aspectos positivos. A gente não tem que entregar a alguém a resposta sobre a nossa vida, na verdade, é a vida que quer a resposta de nós. Temos o poder da ação e somos responsáveis pelas perguntas que acabamos fazendo. Na hora em que verbalizamos, nós construímos a nossa realidade, por isso precisamos nos motivar e sermos propositivos.
Eu, particularmente, tenho gratidão pelo dom da vida, busco incessantemente o autoconhecimento, foco no crescimento pessoal e profissional e exploro o amor pela humanidade através do propósito de que a razão da nossa existência determina a nossa vida a partir do nosso ser.
Então, vale a reflexão: por mais que os momentos sejam difíceis, devemos lembrar que o mundo é visto por uma janela que te permite sonhar.
(texto original foi publicado em https://bit.ly/36l1vAu)
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