PENSAMENTO PLURAL O povo domado, por Gal Gasset
Quantos pensadores foram varridos do mapa durante a revolução de MaoTsé Tung? Quantos intelectuais tiveram destino trágico na Rússia em iguais circunstâncias? Perguntas inquietantes, respostas igualmente. Esse é o principal mote da crônica “O povo domado” de Gal Gasset, quando traça um retrato do tratamento que a liberdade de expressão recebe em estados totalitários, inclusive a Paraíba durante o governo Ricardo Coutinho. Confira a íntegra de seu comentário…
Na crônica anterior vimos que o primeiro dono da China mandou queimar todos os livros e enterrar vivos 460 eruditos, os blogueiros da época. Isso foi há 2.200 anos. Mao Tsé Tung, o ditador comunista chinês de 1949 a 1976, era fanático pelo Chin I. Todavia, o orgulho de Mao foi matar cem vezes mais intelectuais. Pelo menos 46.000 pensadores foram riscados do mapa. A situação por lá parece não ter evoluído muito. Apesar das tecnologias, as liberdades de imprensa, de opinião e de expressão são artigos de luxo para os chineses. Manifestações públicas então, melhor nem comentar. Povo sofrido esse.
Na Rússia, pelo ano 1850, intelectuais se encontravam para debater os rumos do socialismo e a derrubada do regime Czarista. Fiódor Dostoieviski [1821-1881], um jovem literato, foi preso e condenado à morte. Na mira do fuzil, recebeu o indulto, tendo a pena permutada para 10 anos de reclusão, entre trabalhos forçados na Sibéria e serviço militar. Depois de libertado, ele se reconcilia com a Fé e produz obras universais. Como os bons clássicos, seus livros permanecem incrivelmente atuais.
O russo Nicolai Buckarin [1888-1938], economista e jornalista, foi o principal ideólogo do comunismo, depois de Lênin. Editor de vários jornais do partido, inclusive o Pravda. Caiu em desgraça após criticar o coletivismo, sendo acusado de “inclinações direitistas”. Preso e condenado à pena capital. Casos assim ocorreram aos montes. Com muita sorte se conseguia ser exilado. Os intelectuais, mesmo os apoiadores do regime, eram condenados à prisão perpétua ou à morte. Os comunistas executaram sobretudo os próprios companheiros. Sem dó nem piedade.
Em Cuba, há sessenta anos sob o jugo comunista, não existe liberdade de expressão. Não existe nem comida. Nem papel higiênico. Remédios, o que é isso? Esse é o verdadeiro comunismo. Em 2003, José Saramago [1922-2010] rompeu com Fidel Castro [1926-2016]. O escritor português revelou que Fidel “perdeu minha confiança, fraudou minhas esperanças, destruiu minhas ilusões. Até aqui cheguei.” Saramago chegou ao limite no fuzilamento de três dissidentes. Homens que tentavam fugir da ilha num barco roubado. Mas as 100 mil mortes, por paredão, afogamento, inanição etc, causadas pelo regime castrista, não foram motivo de repúdio por décadas. Coerência e caráter, só que não.
Lula quase expulsou o jornalista Larry Rohter, que falou sobre o alcoolismo dele. Processos contra jornalistas na Paraíba se contam às dezenas. Só o jornalista, blogueiro, youtuber e escritor Hélder Moura recebeu mais de 80 ações judiciais de Ricardo Coutinho, o ex-governador socialista. Hélder ganhou praticamente todas. Outros jornalistas processados: Gilvan Freire, Marcelo José, Alan Kardec, Marconi Ferreira, Anderson Soares, além de outros não jornalistas.
A CPMI das Fake News começou como uma proposta estapafúrdia e debandou para um processo que está tentando criminalizar a liberdade de opiniões. O senador Ângelo Coronel (PSD/BA) esteve recentemente na Rússia para estudar o tema da desinformação. Na Rússia de Putin! O STF engendrou o processo das Fake News, sendo o acusador, a vítima e o juíz. Qualquer estudante de segundo semestre de Direito vê que o devido processo legal está totalmente atropelado. Na dificuldade de se incriminar os envolvidos, entre jornalistas, youtubers, blogueiros sem blogs e parlamentares, as forças se voltaram para outro processo, o das “Manifestações Antidemocráticas”.
Assim, os manifestantes patriotas, familiares, ordeiros, que rezam de joelhos e cantam o hino nacional são os antidemocráticos. Enquanto os democráticos são os “Antifas”, que queimam a bandeira nacional, depredam o patrimônio alheio e defendem a ditadura do proletariado. Tempos estranhos esses.
É o cenário perfeito para domar o povo, que pede, implora, por mais domínio, mais ordens, mais regulamentos. Isso porque eles perderam a capacidade de se autogovernar, de pensar e de agir. Escritores silenciados e povo domado. Mais uma fase do comunismo mundial implantada com sucesso pelo eixo Rússia – China – Cuba – Brasil. Com a desculpa do Coronga, deram o maior golpe de todos os tempos. O horror, o horror.
(Imagem: “Contrarrevolucionários” e supostos criminosos chineses prestes a ser fuzilados; à esquerda, guarda vermelho tenta separar dois amantes condenados à morte, Cui Fengyuan e Guan Jingxian – Li Zhensheng – Contact Press Images/5.abr.1968).
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