A reabertura de bares e restaurantes no Rio de Janeiro, há poucos dias, ficou marcada por muito desrespeito. Um casal foi flagrado intimidando um fiscal da Vigilância Sanitária e diminuindo o seu posto. Intimidado, o fiscal reage chamando o homem de “cidadão” e a mulher decidiu responder com insulto: “Cidadão, não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você”. Confira a íntegra do comentário…
Muitas pessoas pensam que dinheiro, status social, conhecimento, títulos, são condições para se sentirem “superiores”. Numa sociedade hierarquizada, como a nossa, é muito comum testemunharmos alguém dirigir-se a outro questionando: “você sabe com quem está falando?”, na tentativa de afirmar autoridade sobre o receptor da pergunta. A famosa “carteirada”. Predomina uma mentalidade de distinção entre classes, gerada pela estratificação social em nosso país.
Auto exaltação da personalidade individual objetivando se impor diante de outro. Se imaginando acima da lei, adota um comportamento arrogante e desrespeitoso, querendo impor suas vontades na base da ameaça. Manifesta-se truculento, quando contrariado. Ao ser flagrado em condutas imorais e ilegais, apela para a intimidação no intuito de se blindar quanto ao chamamento da responsabilidade por seus atos de indisciplina social.
O Brasil é o país da “carteirada”, onde ainda prevalece a ideia de que nas relações sociais se impõe a necessidade de apresentar-se como “gente importante” para garantir privilégios e impunidade. O arrogante não percebe que caminha ao lado da ignorância. Vimos isso em reportagem do Fantástico domingo passado, ao registrar a forma como um casal tentou humilhar um fiscal da vigilância sanitária em bar lotado no Rio de Janeiro. Um espetáculo deprimente. Os dois ao serem chamados à atenção por estarem descumprindo as regras definidas para o funcionamento do estabelecimento comercial, partiram para a agressão, afirmando, inclusive, que o servidor público que os advertia era pago com o dinheiro deles. Achando pouco a mulher reagiu insatisfeita quando o fiscal, educadamente, tratou o seu marido como “cidadão”. “Cidadão não. Ele é engenheiro civil formado. Melhor do que você”.
Esse lamentável episódio, no entanto, mereceu repúdio de todos os que tiveram a triste oportunidade de assisti-lo. A empresa onde a mulher trabalhava, tratou de demiti-la sumariamente. Bom sinal. Mostra que o brasileiro começa a se contrapor a esse tipo de comportamento, não aceitando que a elite do atraso queira se manter numa posição de equivocada superioridade. É também a demonstração de que não se deve mais tolerar as posturas autoritárias, estimuladas pelo poder de mando. Começamos a ter consciência do que seja cidadania. Mas é importante também que as autoridades deem o exemplo, não adotando posturas que sirvam de referência comportamental inaceitável.
O tratamento de igualdade social é um princípio da nossa Constituição, estabelecido em seu artigo quinto, quando diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.