PENSAMENTO PLURAL Estratégia do desespero, por Palmarí de Lucena
O mundo todo busca, neste momento, uma alternativa terapêutica para enfrentar o avanço da Covid-19, numa corrida contra o tempo. Para o escritor Palmarí de Lucena, “o mundo está demandando respostas e soluções rápidas, de um sistema de pesquisas notoriamente incapaz de reagir com devida alacridade e eficiência”. Uma estratégia de desespero que nem sempre é a melhor alternativa para resolver o problema. Confira íntegra do texto:
Desesperados em resolver o dilema mortal representado pelo COVID-19, o mundo está demandando respostas e soluções rápidas, de um sistema de pesquisas notoriamente incapaz de reagir com devida alacridade e eficiência. Mais irônico, e talvez mais trágico, é que atalhos a ciência têm retardado o entendimento da doença, subestimando nossa capacidade de identificarmos drogas que funcionam, fazem mal ou não têm nenhum efeito. Testes clínicos de baixa qualidade e confiabilidade contribuíram para causar falsas expectativas e desagregante politização de protocolos sanitários.
Profissionais de saúde estão procurando freneticamente por algo mais, que possa combater as muitas maneiras que o vírus possa fazer mal, experimentando com medicinas para derrames, azia, coágulos de sangue, gota, depressão, inflamação, AIDS, hepatite, câncer, artrite ou mesmo células-tronco ou radiação. Segundo Dr. Steven Nissen da Cleveland Clinic, “[…] estão agarrando qualquer coisa que possa funcionar. Desespero não é uma estratégia. Bons testes clínicos representam uma boa estratégia.”
Poucos estudos definitivos foram realizados nos USA e em outros países, alguns deles subestimados por uso extensivo de drogas auto-prescritas ou questionamento de práticas laxistas de patrocinadores de estudos científicos. Milhares de pessoas e governos alinhados com o amadorismo sanitário de Donald Trump, engrossaram a fila daqueles propondo ou usando a medicação antimalárica hidroxicloroquina, como um crachá ideológico. Estudos inadequados ocuparam o espaço midiático e o debate político, por mais de três meses, até que estudos mais confiáveis sepultaram a falácia.
Lamentavelmente, ciência tem sido substituída por fanatismo ideológico, incompetência ou práticas espúrias de partes interessadas na comercialização de medicamentos, de grande potencial de vendas institucionais. Pacientes podem e devem ser tratados com soluções científicas e não, com soluções rápidas arriscadas. Governantes devem ser responsabilizados pelo custo humano que assumiram ao transformarem-se em magos de políticas públicas de saúde, baseadas em xamanismo ideológico, oportunismo político ou na definição do combate da COVID-19 como uma missão militar, um modelo de gestão hierárquico incompatível com as funções que lhes foram atribuídas.
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