PENSAMENTO PLURAL A cultura da desinformação, por Rui Leitão
O escritor e historiador Rui Leitão faz, com sua mais recente crônica, uma reflexão de como a cultura da desinformação depõe contra a democracia, num cenário em que, na maioria dos casos, “o fanatismo político faz com que se dê crédito à informação, baseado na idolatria devotada ao líder que a transmite”, que distorce os fatos e cria uma espécie de “realidade paralela”. Confira a íntegra de seu comentário…
A sociedade brasileira vem sendo submetida a um regime da desinformação, o que provoca efeitos imbecilizantes e, muitas vezes, ostensivos. Ingressamos na era da pós-verdade. Notícias falsas ou manipuladas são disseminadas com impressionante desfaçatez. E têm encontrado terreno fértil na opinião pública. É um fenômeno extremamente perigoso para o exercício da democracia, quando o conceito de liberdade de expressão é frequentemente deturpado. O dever ético de obediência à verdade sendo desrespeitado despudoradamente.
É muita desinformação sendo compartilhada. A retórica com a intenção de enganar. O anonimato tem permitido que se formem exércitos virtuais com o propósito de construir “ilusões da verdade”. Um “modus operandi” bastante utilizado no campo da política, servindo de suporte em campanhas eleitorais. Fatos verdadeiros são distorcidos com o intuito de persuadir os receptores da informação a acreditarem na mensagem emitida. O mais grave é quando o fanatismo político faz com que se dê crédito à informação, baseado na idolatria devotada ao líder que a transmite. Na cegueira de consciência crítica acolhe como verdadeira toda informação por ele produzida.
O que interessa é criar uma realidade paralela, desfazendo a importância dos fatos reais. Numa sociedade radicalmente polarizada como a nossa nos tempos atuais, a validação de uma opinião é mais importante do que a informação verdadeira. As crenças pessoais e impulsos emocionais bloqueiam a capacidade de se exercitar o senso crítico. A mentira passa a ser banalizada, porque se torna útil para a consecução de objetivos escusos. Evidencia-se, então, a preferência por acreditar na “verdade conveniente”., ainda que eventual.
As pessoas, em geral, buscam aceitar a mensagem que se alinhe à sua visão circunstancial da realidade. Aplaudir o discurso que lhes convém momentaneamente, descartando tudo o que contrariar o pensamento a que foram convencidos a admitir. A partir daí nasce facilmente a “cultura do ódio”, que se fortalece através da “cultura da desinformação”, ou da “cultura da ignorância”. A propagação da informação falsa não tem o objetivo de despertar o racional, mas, principalmente, de provocar o emocional. Acende o fervor bélico, a opção pelo conflito.
Indivíduos que deixam de enxergar possibilidades de retomada da vida produtiva, porque foram persuadidos a perder a esperança, são vítimas dessa estratégia política da “cultura da desinformação”. Passam, então, a ser presas fáceis dos discursos de enganação dos populistas demagogos. O líder que adota a mentira como método de governo, imagina que suas falácias serão sempre acolhidas pelo povo. Esquece que existe um ditado da sabedoria popular que diz: “mentiras têm pernas curtas”.
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