PENSAMENTO PLURAL A chancela ideológica do reacionarismo, por Rui Leitão
Em sua crônica mais recente, o escritor e historiador Rui Leitão observa como, atualmente, “A postura reacionária sempre se fez presente na sociedade brasileira, mas nunca como nos tempos atuais” e ainda “percebe-se o uso de uma retórica virulenta e incendiária com o propósito de demonizar tudo o que possa ser considerado como ideia de esquerda”. Para Rui, esta prática visa despolitizar a população, algo que tornaria mais fácil a dominação. Confira a íntegra de seu texto…
A postura reacionária sempre se fez presente na sociedade brasileira, mas nunca como nos tempos atuais. Sectários da direita estão saindo, sem qualquer constrangimento, do silêncio conveniente de algum tempo atrás, para a efervescência de suas manifestações contra os avanços sociais e, por consequência, tentando corroer as conquistas democráticas. Percebe-se o uso de uma retórica virulenta e incendiária com o propósito de demonizar tudo o que possa ser considerado como ideia de esquerda. O objetivo é inflamar consciências, especialmente dos que não se dão ao trabalho de pensar por si próprios, buscando ampliar a conquista de espaços eleitorais. Quanto mais despolitizada e acrítica seja a população, mais fácil dominá-la.
Evidencia-se um esforço para golpear a nossa estrutura republicana, para atendimento de um projeto político descomprometido com o progresso social brasileiro. Prevalecem os interesses empresariais nacionais e internacionais, em detrimento do bem coletivo. As elites dominantes proferem um discurso falso de combate à corrupção, adotando na prática um processo demasiadamente seletivo. É visível a intenção em promover uma cisão na ordem pública nacional.
Os reacionários produzem vetos às concepções de mundo ditas progressistas. Possuem características autocráticas e tradicionalistas. O apelo ao nacionalismo e ao moralismo conservador sedimenta o pensamento ideológico deles. Obscurantistas, se posicionam na anticiência e no negacionismo, visando convencer que propostas de mudanças, ainda que pareçam necessárias, prejudicam valores tradicionais e atacam conceitos da moralidade. Estimulam a religiosidade confusa, as teorias da conspiração, gerando uma conveniente regressão intelectual. São manipuladores de sentimentos. Criam inimigos imaginários e disseminam o ódio como arma de combate.
O oportunismo eleitoral em épocas de crise fortalece o reacionarismo, uma vez que encontra uma população intranquila, desesperançada e desorganizada politicamente. Terreno fértil, portanto, para germinar o medo, as incertezas, o clima de ameaças à sobrevivência. Salvadores da pátria se apresentam como portadores das verdades e das soluções. Campo aberto para o surgimento do “messianismo”. As respostas reacionárias são simplistas e desprovidas de verdades e consistências científicas. Foi assim que se afirmou o nazi-fascismo no século passado. A imposição da ordem absoluta do Estado, sob o comando de um líder supremo, é propagada como o caminho mais correto para reagir contra os “revolucionários”.
Via de regra, o reacionarismo está sempre a serviço da manutenção do sistema de acumulação de riqueza e de poder. Daí a estratégia em desvalorizar o tempo presente, em nome de um passado nostálgico, como se a modernidade fosse uma ameaça. Para eles sim, porque temem perder privilégios que os colocam em posições de primazia nas escalas sociais. Estamos vivendo o reacionarismo bizarro, na prevalência da estupidez e da irracionalidade.
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