CAOS NO TRAUMA Governo afasta médicos e hospital fica sem atendimento de urgência cardiovascular e de neurocirurgia
O trauma voltou ao Hospital de Trauma. Tudo depois que o governo do Estado afastou 40 médicos cardiovasculares e neurocirurgiões, deixando o hospital sem atendimento para casos de urgências nestas especialidades. Em nota, a cooperativa Neurovasc alerta também que as organizações sociais Cruz Vermelha gaúcha e Acqua, que terceirizaram o hospital, deixaram de pagar salários dos profissionais e o governo não quer assumir a dívida.
Além do mais, e ainda segundo a Neurovasc, o governo do Estado deixou vencer o contrato, sem ter apresentado qualquer outra alternativa: “Lamentamos que nesse momento de pandemia, em que já perdemos tantas vidas, muitas delas de profissionais médicos imbuídos no compromisso de salvar vidas, a população paraibana esteja desassistida.”
Conforme comentários nos bastidores, o governo estaria contratando médicos de outros Estados, e pagando plantões muito mais caros que os pagos a médicos cooperados.
CONFIRA ÍNTEGRA DA NOTA…
A Neurovasc, cooperativa de especialidades médicas, congrega 27 neurocirurgiões, 22 cirurgiões vasculares e 13 cirurgiões torácicos, totalizando 62 cooperados em seu corpo clínico. Estamos há quase 10 anos prestando serviços de excelência no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena (HEETSHL), sempre com grande aceitação e elogios de todas as administrações que por ali passaram, incluindo a atual.
Nesses 10 anos de prestação de serviços, nunca houve sequer uma única falta de médico em plantões, ambulatórios, cirurgias eletivas e chamados de sobreaviso. Ressalte-se que não há concessão de férias, décimo terceiro salário ou abono por motivo de atestado médico. O cumprimento dos serviços sempre foi pleno nos 365 dias de cada um dos 10 anos até aqui trabalhados, totalizando aproximadamente 6000 cirurgias em 10 anos, todos de procedimentos de média e alta complexidade.
Nesse período, os contratos foram firmados com Organizações Sociais (Cruz Vermelha e Acqua), que detiveram o gerenciamento do HEETSHL, ou com a Secretaria Estadual de Saúde. Com esta última, sempre por Excepcional Interesse Público, uma vez que o Estado da Paraíba não faz concursos para médicos destas especialidades há mais de 10 anos.
As cooperativas são pessoas jurídicas de direito privado que sempre defenderam a categoria médica e cobraram do Poder Público, com afinco condições de trabalho satisfatórias para assistência digna à população, a exemplo da denúncia de uso de furadeiras caseiras para neurocirurgias em 2012, e nunca foram envolvidas em qualquer escândalo, em que pese os incontáveis envolvendo o prévio e o atual grupo do Governo da Paraíba.
Nos últimos 2 anos as renovações pactuadas não tiveram aumento, por iniciativa da própria Neurovasc, que comprometida com nosso Estado, entendeu as dificuldades econômicas do ente e fez sua parte nessa causa. Entretanto, no ano de 2019, a Neurovasc trabalhou 12 meses e recebeu apenas 10 meses. Temos 2 meses pendentes não pagos pela Acqua, OS contratada pelo Governo do Estado através da Secretaria de Saúde e sob investigação.
Os processos seletivos e chamamentos para contratos precários, individuais e temporários, que ao nosso sentir deveria ser a verdadeira preocupação do Ministério Público do Trabalho, foram realizados pela Secretaria Estadual de Saúde e se mostraram infrutíferos. Isso se deve em parte a grande maioria dos médicos das especialidades citadas alhures já possuírem dois vínculos públicos, sendo-lhes vedado um terceiro, e em parte pela ausência de vantagens como salário justo e estabilidade.
Mesmo assim a Secretaria de Saúde insistiu em fazer e prorrogar chamamento público para acolher pessoas jurídicas para o serviço. Ora, a Neurovasc já preenche esse requisito, pois é pessoa jurídica sem qualquer impedimento legal, conta com profissionais com larga experiência e capacidade, além de já estarem em pleno desempenho de suas funções no HEETSHL.
A despeito disso, a Secretaria Estadual de Saúde, podendo contratar com base no Estado de Emergência que nosso país se encontra, optou por reiterados chamamentos públicos vazios ou que restam com adesão insuficiente, mesmo apelando para convocação de médicos residentes (em formação), deixando vencer a contratação da Neurovasc (onde todos são médicos titulados pelas suas respectivas Sociedades de Especialidades) e desfalcando o HEETSHL, maior e mais requisitado hospital de emergência e trauma do Estado da Paraíba, destas especialidades para atender a população.
O HEETSHL é um bem imprescindível para saúde da população paraibana. Todos os cooperados da Neurovasc sabem disso e sempre primaram por oferecer experiência, competência e sobretudo atendimento humano a todos os paraibanos que dependem desse hospital.
Lamentamos que nesse momento de pandemia, em que já perdemos tantas vidas, muitas delas de profissionais médicos imbuídos no compromisso de salvar vidas, a população paraibana esteja desassistida nas especialidades médicas supramencionadas, sem perspectiva de uma solução viável e rápida, enquanto o hospital permanece em pleno funcionamento e sem a oferta de serviços essenciais, cuja falta pode levar a mais perdas de paraibanos e até de pacientes de outros Estados.
Apesar do rótulo de omissos, utilizado pelo secretário de Saúde do Estado da Paraíba, para adjetivar a categoria médica, os cooperados da Neurovasc não se esquivaram da assistência necessária durante essa pandemia. Muitos foram afetados em suas funções e prontamente substituídos para não haver descontinuidade dos serviços, garantindo a segurança da população. Quem está, verdadeiramente, sendo omisso com a saúde da nossa população?