PENSAMENTO PLURAL Democracia, se pudermos mantê-la, por Palmarí de Lucena
A proximidade do processo eleitoral leva o escritor Palmarí de Lucena refletir sobre a importância do cidadão estar atento para a preservação dos valores democráticos, em meio ao habitual apelo do marketing político, que se manifesta em “pronunciamentos bombásticos, extrapolando as conquistas e as qualidades dos seus candidatos nas redes sociais e outras vertentes midiáticas”. Confira a íntegra de seu comentário..
Nova jornada eleitoral se aproxima. Magos do marketing político ocupados, produzindo pronunciamentos bombásticos, extrapolando as conquistas e as qualidades dos seus candidatos nas redes sociais e outras vertentes midiáticas. Hipérboles, truísmos e deslizes da verdade invadindo nossos lares durante frustrantes momentos de ociosidade doméstica, causada por medidas sanitárias anti-Covid19. Embaçados pela fumaça e os vidros dos ilusionistas da comunicação social, agentes políticos carentes de planos, ideias ou mérito, prometendo melhorias sociais, oferecendo benesses e repetindo soluções populistas para todo e qualquer problema. Mantendo o País e o povo nas profundezas do subdesenvolvimento humano e na periferia do progresso.
Perguntamos: você compraria um carro usado ou um terreno oferecido à preços módicos por um candidato político, após assistir uns tantos segundos de narrativa eleitoral? Faça essa pergunta antes de votar, vote de acordo com a sua resposta.
Democracia é um sistema frágil, às vezes ineficaz, mas é o melhor que temos. Atravessamos o século XX relativamente imunes às vertentes totalitárias do fascismo, nazismo e estalinismo. Convivemos com a guerra fria, sem nos engajarmos nos grandes conflitos bélicos do mundo bipolar. Éramos nós, nossos inimigos. Desigualdades entre classes, raças e regiões nos levaram a um desequilíbrio interno com consequências drásticas para a nossa nascente democracia, vivemos vinte e um anos pisoteados pela intolerância de uma ditadura militar.
Temos uma democracia cada dia mais ameaçada pela combustão explosiva do cinismo e patrimonialismo de políticos tradicionais, militarização de instituições civis, ingerência política nos órgãos de segurança pública, surgimento de movimentos populistas e extremismo alimentado por “fake-news” ou teorias da conspiração. Manifestações violentas, militarização de mecanismos de coerção estatal e a falta de um diálogo genuíno entre o povo e a elite política, não auguram nada de bom para um futuro de convivência pacífica e do progresso democrático.
A democracia cresce e prospera quando seus elementos constitutivos: a sociedade civil, a liberdade e o progresso se interlaçam em mosaicos mutuamente sustentáveis, sem exclusivismo, domínio de um sobre o outro, ou abdicação de princípios básicos e vocação republicana, embutida na separação dos três poderes. Desequilíbrios e limitações podem transformá-los em ameaças sérias à democracia e a felicidade geral da nossa grande nação.