O escritor e historiador Rui Leitão observa, em sua crônica, como “uma rede de aproveitadores que se alimenta do infortúnio, da pobreza, das mazelas sociais, para prosperarem na vida”. Adiante, lamenta que “a decadência intelectual é estimulada para tirar do povo a capacidade de discernir e assim aceitar as arbitrariedades impostas pela escória política”, num País que alimenta o usufruto das injustiças sociais. Confira a íntegra do comentário…
Não é de agora. Desde o seu descobrimento, em 1500, o Brasil alimenta a cultura do usufruto das injustiças sociais. São situações em que uma pequena parte da população se favorece com a desigualdade no mercado do trabalho, a fome de muitos, o desemprego, a falta de moradia, a ausência de políticas públicas para oferecer educação e saúde aos cidadãos, a impossibilidade de acesso aos meios essenciais para que se tenha uma vida humana digna.
Como a justiça é feita pelos homens, ela está repleta de interesses parciais. A justiça que não tem caráter coletivo, fazendo prevalecer as conveniências individuais ou de grupos, não pode assim ser considerada. A verdadeira justiça deve tratar os seres humanos como iguais. Quando vemos ações que atendem exclusivamente às expectativas das elites econômicas e dos detentores do poder, fica flagrante a prática das injustiças sociais.
Ao se tornar ineficiente o Estado fomenta as injustiças. Adota a política da miséria controlada, porque interessa às forças dominantes. A intenção criminosa é desestabilizar a sociedade para criar a insegurança. Emergem os divulgadores de mentiras e propagadores da violência para intimidar aqueles que têm consciência dos seus direitos de cidadania. Agentes públicos desonestos são comprados para boicotarem o atendimento social. Riquezas nacionais são vendidas ao capital estrangeiro. O objetivo é tornar os pobres, os desassistidos, reféns das suas decisões, silenciosamente. Sem direito a qualquer reação. Tiram até o direito de pensarem por si próprios. Assim os “vende pátrias” chegam mais facilmente ao poder.
É a maneira com que conseguem manter um “status quo” que garanta a alguns a condição de privilegiados e condutores do processo político. A manipulação de consciências que inibe a massa tomar conhecimento dos seus direitos. E, por consequência, aceitar passivamente as injustiças sociais.
Uma rede de aproveitadores que se alimenta do infortúnio, da pobreza, das mazelas sociais, para prosperarem na vida. A decadência intelectual é estimulada para tirar do povo a capacidade de discernir e assim aceitar as arbitrariedades impostas pela escória política. A classe mais ignorada pela política, representada pelos pobres, é que sente o maior peso dos descasos e desmandos do sistema corrupto e corruptor. São esses os maiores beneficiários das injustiças sociais.
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