PENSAMENTO PLURAL Política como negócio de família, por Palmarí de Lucena
O tema da crônica do escritor Palmarí foca um das características da prática política no Brasil, que é a formação de oligarquias, com a “perpetuação de famílias no poder”, que se afirma na transferência de bastão de uma geração para outras, mantendo as mesmas estruturas que já vêm de décadas no País, que “é uma república do nepotismo, quando consideramos a prática como uma relação entre parentesco e poder político”. Confira a íntegra do comentário…
Perpetuando famílias no poder, o nepotismo eleitoral figura entres as causas principais do atoleiro ético e moral, debilitando a democracia brasileira, obliterando toda e qualquer possibilidade de uma reforma política e modernização das instituições. Reproduzindo estruturas político-partidárias por gerações, privilegiando um criadouro de possíveis abusos do poder econômico, mantendo o patrimonialismo, dinheiro e sobrenome contribuem para a manutenção do poder eleitoral, abrindo janelas de oportunidade às práticas corruptas, deslizes éticos e conflito de interesses.
A vitória eleitoral de um candidato, principalmente no Legislativo, é alicerçada pelo capital político herdado e acesso aos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, já que as doações empresariais de campanha estão proibidas, por decisão do STF. Recentes reformas eleitorais, no entretanto, não impedem a influência do poder econômico nas eleições, pelo contrário, dá mais poder às oligarquias políticas que controlam o funcionamento interno dos partidos e a alocação de recursos de emendas parlamentares, para financiar projetos em suas áreas de influência política.
Segundo um estudo da Transparência Brasil, “A transferência de poder de uma geração a outra de uma mesma família tanto é uma forma de manter no cenário político figuras tradicionais já desgastadas – muitas das quais chegam a ser rejeitadas pelas urnas – como uma maneira de perpetuar práticas políticas arcaicas, que garantem a defesa dos interesses de determinados grupos locais e dificultam mudanças.”
Proliferação de rodovias, hospitais, escolas e logradouros públicos com nomes de parentes de políticos, mesmo quando os homenageados não exerceram atividades relevantes, é um dos exemplos mais representativos da privatização da coisa pública para prestigiar familiares de políticos e seus herdeiros. Nepotismo eleitoral é parte do atraso e falta de mudanças políticas no Nordeste, que encabeça a lista das regiões com maior percentual, com 63% de herdeiros políticos no país.
O Brasil é uma república do nepotismo, quando consideramos a prática como uma relação entre parentesco e poder político. Influência difusa do nepotismo eleitoral permite desigualdade entre candidatos, quando igualdade de condições é essencial para assegurar eleições limpas e justas. Listas de candidatos são verdadeiras árvores genealógicas ou combinações de interesses entre oligarquias políticas. Prefeitos inabilitados para reeleição, simplesmente arquitetam a nomeação de cônjuges ou parentes para substituí-los, usando empenhos ou obras de maior tração eleitoral para alavancar suas candidaturas. Nepotismo eleitoral é um prática antidemocrática, que deve ser rejeitada pelos eleitores e a sociedade como um todo.
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