PENSAMENTO PLURAL O silêncio seria uma contribuição ao transporte público, por Carlos Batinga
O engenheiro Carlos Batinga, em texto remetido ao Blog, advoga que os atuais candidatos a prefeito dariam uma contribuição valiosa ao setor de transporte público se, em vez de fazerem promessas que não irão cumprir, ficassem em silêncio. Pelo menos sobre um tema que, aparentemente, não têm o pleno conhecimento de causa. “A julgar pelas propostas e projetos que estão sendo apresentados nos guias eleitorais dos candidatos a prefeito, nas mais diversas cidades, o que já está ruim pode ficar muito pior”, diz Batinga. Confira íntegra do comentário…
Um dos maiores problemas que será enfrentado pelos gestores municipais das médias e grandes cidades brasileiras, a serem eleitos ou reeleitos em novembro deste ano, será reorganizar o serviço de transporte coletivo, responsável por um terço dos deslocamentos das pessoas, já a partir de janeiro de 2021.
O que tem mantido os sistemas de transportes operando no Estado de Emergência são: os benefícios referentes à folha de pagamento de pessoal das operadoras, o adiamento do recolhimento de impostos e dos pagamentos de dívidas junto ao BNDES e outros bancos e em alguns casos a antecipação de recebíveis. No início do próximo ano estarão todos encerrados.
A vida terá que voltar ao normal para as empresas operadoras quanto às obrigações legais, porém com uma queda de receita que muito provavelmente irá variar entre 25 e 50% em comparação ao período pré pandemia.
A julgar pelas propostas e projetos que estão sendo apresentados nos guias eleitorais dos candidatos a prefeito, nas mais diversas cidades, o que já está ruim pode ficar muito pior. Se promessas de congelamento de tarifas, ampliação de privilégios e gratuidades, substituição da frota de veículos movidos a diesel por outros novos e elétricos, quebra dos monopólios e um sem número de outras intervenções que aumentam custos e reduzem receitas sem, no entanto, esclarer como e com quais recursos serão feitas, nos induz a crer que talvez acreditem em milagre ou, apenas, em enganar os eleitores.
Por outro lado, a comunidade técnica acadêmica e as instituições que atuam no setor têm elaborado projetos, propostas e levado a efeito discussões sobre as alternativas para sair do verdadeiro caos estabelecido, porém ainda não tiveram a capacidade de transformar tudo isso em ação efetiva para a melhoria da qualidade do serviço de transporte coletivo prestado à população, sequer têm conseguido sensibilizar os tomadores de decisão, no Executivo e Legislativo Federal, para formular uma Política Nacional, mesmo sendo esse serviço considerado essencial num país eminentemente urbano.
O transporte coletivo urbano sempre é tema de destaque nos períodos eleitorais e cai no esquecimento no decorrer da gestão, razão pela qual se chegou a esta situação de degradação e, a contar pelo que estamos ouvindo dos candidatos a prefeito, não haverá mudança positiva na mobilidade urbana tão cedo.
Recordando um velho colega de trabalho que dizia: “esta área em que militamos é muito ingrata, pois o melhor elogio que recebemos é o silêncio, até quando um projeto que implantamos resulta bem sucedido”.
Assim, se a maioria dos atuais candidatos tivesse ficado calada quanto ao transporte coletivo, já estaria dando uma boa contribuição para esta área.
*O engenheiro Carlos Batinga é Especialista em Mobilidade Urbana e membro do Conselho do MDT e ANTP.
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