PENSAMENTO PLURAL A ilusão da verdade é mãe da injustiça, por Rui Leitão
Em seu primeiro comentário, após ter contraído Covid, o escritor e historiador Rui Leitão alerta que, se “integramos uma sociedade corrompida, essa verdade fica comprometida e os julgamentos passam a ser arriscadamente contrários aos princípios de justiça”. E, muitas vezes, somos tentados a apontar o dedo para alguém, sem fazermos o devido julgamento, quando deveríamos fazer uma prévia reflexão, para não cometermos injustiças. Confira a íntegra de seu texto…
O julgamento das ações humanas deve ser baseado na verdade dos fatos. Mas o que é a verdade? Segundo Platão “Verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são; falso aquele que as diz como não são”. A partir dessa afirmação, chegamos ao perigoso entendimento de que estamos sempre intimados a acreditar no que divulga a mídia ou nos discursos de persuasão dos políticos e dos que se julgam capazes de manipular consciências. É a verdade falseada com segundas intenções.
É no conjunto ético e moral de uma sociedade que encontramos a “verdade”. Se integramos uma sociedade corrompida, essa verdade fica comprometida e os julgamentos passam a ser arriscadamente contrários aos princípios de justiça.
A nossa experiência pessoal, construída no ambiente social em que vivemos, é que nos induz a adotar pressupostos em relação a pessoas, fatos e circunstâncias. Por isso passíveis de equívocos e distanciados da verdade. A ilusão da verdade domina nossa consciência crítica. Somos permanentemente bombardeados por informações falsas e muitas vezes propositadamente incompletas. Com base nelas chegamos a formar opiniões que passamos a julgar como verdadeiras.
A História tem nos mostrado que muitas vezes aquilo que entendíamos como verdade absoluta tornou-se uma concepção falsa. Estamos sempre incorrendo em interpretações errôneas que nos levam a cometer injustiças. Essa é a razão do perigo do pré-julgamento. Quando nos antecipamos em julgar pessoas e situações sem a preocupação de buscarmos chegar próximos do que seja a verdade. E fazemos isso, muitas vezes, guiados por emoções, paixões, interesses pessoais, ou até mesmo influenciados por outros.
Nós, simples mortais, nunca conheceremos a verdade absoluta. Esse conhecimento só Deus possui. Mas podemos ser prudentes na admissão daquilo que nos parece, num primeiro momento, verossímil. Se deixarmos que a emoção se sobreponha à razão, certamente estaremos fadados a aceitar verdades que nos são convenientes momentaneamente, mesmo sabendo que elas estão eivadas de falsidades. E o que pode ser bom para nós individualmente, pode ser prejudicial para outros ou uma coletividade.
Não custa refletirmos sobre isso, a cada vez que nos sentirmos tentados a apontar o dedo em direção a alguém para acusá-lo. A ilusão da verdade é mãe da injustiça.
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