PENSAMENTO PLURAL A paranoica política armamentista, por Rui Leitão
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Recente decisão do presidente Bolsonaro de zerar as alíquotas para importação de armas é o mote da crônica do escritor e historiador Rui Leitão, para quem “o Brasil precisa, prioritariamente, é de mais educação, oportunidades de emprego e de leis que realmente funcionem”, e arremata: “É necessário, portanto, conter essa paranoia armamentista que tomou conta de nosso país.” Confira a íntegra de seu comentário…
Nunca portei uma arma de fogo. Como também não censuro quem dela faz uso. O que sinto dificuldade em compreender é a política armamentista que vem sendo praticada no Brasil nos anos recentes. O estímulo à sua utilização chegou ao ponto em que se tornou símbolo de uma campanha eleitoral fazer com as mãos o gesto que significa uma arma de fogo. Até nas igrejas vimos líderes religiosos comandando fotos com os fiéis fazendo isso, como se fosse a coisa mais natural do mundo. No meu entendimento postura incompatível com a doutrina cristã.
O argumento oficial é de que o Brasil armado possibilitará maior segurança aos cidadãos. Porém não dá para ignorar que existem interesses econômicos por trás dessa ideologia armamentista. Daí a razão de doações milionárias das indústrias fabricantes de armas e munições para as campanhas eleitorais. Tem sido exponencial o crescimento dos números de portes de armas nos últimos anos em nosso país. Resultados comemorados pela bancada da bala no Congresso Nacional. Vários decretos foram editados com o propósito de flexibilizar a posse e o porte de armas de fogo.
Os arsenais privados estão sendo renovados, inclusive possibilitando a aquisição de armas anteriormente restritas às forças policiais e às Forças Armadas. Se estabelece o entendimento de que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, motivo que fundamenta a importação do discurso armamentista dos norte-americanos. Evidente falta de patriotismo, ao copiar dos outros o que não se harmoniza com a nossa realidade. Essa paixão por armas entre eles é histórica.
Considerável parcela da população aprova declarações como: “Armar o cidadão de bem é garantir a ele o direito de defesa”. Esse cidadão de bem estará preparado técnica, física e mentalmente para enfrentar situações de risco portando uma arma? Não há como contestar a verdade explícita de que “mais armas, mais mortes”. É prudente armar uma população que vive atualmente em permanentes conflitos, onde as paixões se revelam por diversos motivos, promovendo acaloradas discussões? Impulsos e motivos fúteis podem concorrer para que os portadores de armas cometam crimes que normalmente não aconteceriam se estivessem desarmados.
Prefiro empunhar as armas da esperança com a munição da coragem. Recorrem às armas letais aqueles que não conseguem vencer as lutas por meio da lógica. Melhor nos vermos todos de mãos dadas batalhando por causas comuns, porque assim as armas obrigatoriamente estarão no chão, não podendo ser manuseadas. O que o Brasil precisa, prioritariamente, é de mais educação, oportunidades de emprego e de leis que realmente funcionem. É necessário, portanto, conter essa paranoia armamentista que tomou conta de nosso país.
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