PENSAMENTO PLURAL Nem todo esquerdista é comunista, por Rui Leitão
O tema é, obviamente, explosivo, sobretudo nos tempos de tanta polarização que experimentamos no País. Em sua nova crônica, o escritor e historiador Rui Leitão lembra como “o insulto preferido para quem milita no campo da direita é chamar o adversário de comunista”. Mas, para Rui, apesar de todo comunista ser de esquerda, “nem todo esquerdista é comunista”. Confira a íntegra do comentário…
A era de polarização política que estamos vivendo no Brasil leva as pessoas a produzirem o termo “comunista” como um xingamento aos que defendem ideias de esquerda. E fazem isso sem sequer saberem de fato o que é “comunismo”. A ignorância a respeito alimenta essa inútil guerra ideológica. Para muitos, “socialismo” é sinônimo de “comunismo”. Boa parte da população brasileira lida com a política como se estivesse na arquibancada de um estádio torcendo apaixonadamente por seu time de futebol. Exaltam com exagero o seu partido ou ideologia, denegrindo a imagem dos que pensam de forma diferente. O insulto preferido para quem milita no campo da direita é chamar o adversário de “comunista”.
Os equívocos conceituais sobre o que é “ser de direita” ou “de esquerda”, fazem com que se revele um total desconhecimento também do que seja “comunismo”. Mas é a forma mais comum para desqualificar os socialistas e amedrontar os incautos. Classificar alguém como “comunista”, chega a ser um termo pejorativo. Os conservadores costumam apresentar o “comunismo” como algo aterrorizador e, em razão disso, teimam em confundir o pensamento de esquerda com a ideologia comunista.
O objetivo é demonizar o inimigo. Uma maneira de cercear a divergência política, apelando para uma retórica emocional de falso moralismo. Lideranças partidárias divorciadas dos interesses sociais, atuam exclusivamente em busca da sobrevivência político-eleitoral, sem a preocupação de formularem e implantarem programas que atendam as demandas da sociedade. Então, decidem generalizar os que defendem ações efetivas que combatam a desigualdade social como sendo “comunistas”.
O mais impressionante é ver pessoas de bom nível cultural embarcando nesse ridículo comportamento político, a ponto de exaltarem práticas da ditadura militar que experimentamos há algumas décadas atrás, chegando ao cúmulo de negar a História e afirmarem que naquele sombrio período não vivemos um regime de força, matando a democracia. Quem enxerga as coisas diferente do que eles entendem é logo tachado de “comunista”.
Até o Papa Francisco agora está sendo classificado como comunista por esses fanáticos da direita, apenas porque tem emitido fortes críticas a posturas de governos latino-americanos que fizeram opção pelo neoliberalismo. O nacionalismo de esquerda não pode ser confundido com o comunismo. É um movimento anti-imperialista, em defesa da nossa soberania e dos direitos individuais e coletivos que caracterizam um Estado Democrático de Direito.
O estigma ofertado ao comunismo se dá por conta dos regimes totalitários na União Soviética, China Vermelha e Cuba, só para citar alguns exemplos. O verdadeiro socialista, em sendo um democrata, não apoia regimes onde se estabeleçam políticas de Estado, com exercício da tirania, torturas, prisões injustas por motivações ideológicas. Mas os militantes da direita preferem potencializar qualquer visão de esquerda como um perigo da comunização. E esquecem o que vivemos nos “anos de chumbo” aqui no Brasil.
Então o que podemos dizer, em conclusão, é que todo comunista é de esquerda, mas nem todo esquerdista é comunista. O olhar raivoso com que a direita se dirige aos socialistas, estimulado pelos circunstanciais detentores do poder, tem provocado essa indisposição para um diálogo eficaz respeitando as divergências.
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