PENSAMENTO PLURAL O direito de estrebuchar, por Rui Leitão
É muito normal que alguém quando se vê surpreendido com uma decisão que não atenda seus interesses, passe a exercitar o “direito de estrebuchar”. A agitação emocional que o desagrado provoca, estimula esse tipo de comportamento, mesmo sabendo que de nada adiantará. A irreversibilidade dos acontecimentos incomoda e não há outra forma de reagir senão procurar criar um ambiente de insatisfação, inclusive elaborando falsas expectativas.
Compreende-se como legítimo o descontentamento diante de fatos consumados. Na política, saber perder não é regra. Porém, as reações às vezes exorbitam do razoável, refletindo-se em atitudes de exacerbação com ausência de sensatez. Nas redes sociais proliferam as manifestações raivosas de revolta diante das circunstâncias desfavoráveis. O “jus sperniandi” afirma-se com força, como forma de relutância. Na guerra política é natural que se procure valer das armas da contrainformação como última ação estratégica na tentativa de diminuir os efeitos da realidade indesejada.
Os fatos constroem a história. As opiniões apenas conseguem criar clima de agitação. Violentar princípios e valores éticos na efetivação desse “direito de estrebuchar” pode representar desespero nos procedimentos de embate político. Ao invés de ajudar, revela-se contraproducente para os objetivos que se pretende alcançar. Os argumentos enfraquecidos passam a ser considerados incompreensíveis pela falta de racionalidade, e, portanto, com dificuldades de aceitação pela maioria. A parte insatisfeita, ao entrar no inconformismo psicológico, não se acanha em gerar situações que expressam desequilíbrio emocional.
Não se pode negar o direito de “botar a boca no trombone” ao ser defrontado com aquilo que traz contrariedade e indignação. Todavia, se faz necessário que essa objeção se manifeste sem distorcer propositadamente os fundamentos que conduziram à consumação dos fatos. As argumentações tornando-se inúteis. Termina sendo um caminho perigoso, em razão do risco de não levar a lugar nenhum, a não ser o desencanto com falsas ilusões. O contraditório fica esvaziado retoricamente. Não adianta querer explicar o que não tem explicação. O antagonismo se apressando em apresentar versões equivocadas.
Num ambiente democrático é salutar o debate pautado em divergências de pensamento e de interpretações, desde que obedecendo o respeito às verdades estabelecidas sem possibilidade de questionamentos mal-intencionados, não usando a mentira como método de tentativa de convencimento.
Enquanto houver embate político, o “direito de estrebuchar” sempre será exercitado. Faz parte da dinâmica do jogo. Até porque nada é permanente. Tudo que na atualidade é fato incontestável, amanhã pode sofrer alterações que justifiquem redirecionamento de ações. O que se espera é que esse direito seja exercido num clima de observância da civilidade.
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