PENSAMENTO PLURAL Juarez Amaral agora é saudade dolorosa, por José Mário da Silva
O acadêmico José Mário da Silva, um dos intelectuais mais destacados da Paraíba, aborda numa crônica notável o recente falecimento do radialista Juarez Amaral, vitimado pelo coronavírus. No texto, José Mário esmera-se em discorrer sobre uma das personalidades mais marcantes da história recente de Campina Grande: “Juarez Amaral foi um emérito cultivador do bom português, do falar ático e em infrangível consonância com as normas preconizadas pela gramática normativa do idioma”. Confira a íntegra…
Juarez Amaral não resistiu e findou engrossando as fileiras de uma macabra estatística que parece não ter fim. Não era amigo de Juarez Amaral, nunca privei do seu convívio particular. Uma única vez, na condição de preletor do Encontro Para a Consciência Cristã, fui entrevistado pelo memorável e legendário Jornal de Verdade, idealizado e comandado por Juarez Amaral ao longo de mais de trinta anos de fecunda e resistente existência.
Contudo, Juarez Amaral fez parte do imaginário de minha vida de assumido, hoje menos que no passado, apaixonado pelo rádio, espaço mágico onde a notícia sempre chega primeiro, além de ser de emérito prestador de serviços à sociedade. Portador de personalidade forte, Juarez Amaral foi, sobretudo, um campinista intransigente, um caririzeiro que aqui aportou e, com invulgar competência profissional, escreveu relevantes páginas da história de Campina Grande, dela também fazendo parte de maneira indeslindável.
Com as suas congênitas idiossincrasias, Juarez Amaral, mais que uma pessoa empiricamente vinculada ao mundo real e cotidiano da Rainha da Borborema, constituiu-se numa personagem marcante das cenas e cenários de uma cidade que o acolheu como um filho ilustre, a ele conferindo destacado papel, notadamente o que ele soube, como incansável desbravador de caminhos, desempenhar no âmbito da imprensa, particularmente, a que se delineia no universo cativante da radiofonia.
Sabendo que a inteireza do caráter principia no escrúpulo para com a linguagem, no insuperável dizer de Rui Barbosa, Juarez Amaral foi um emérito cultivador do bom português, do falar ático e em infrangível consonância com as normas preconizadas pela gramática normativa do idioma. Nesse particular, Juarez Amaral era exigente, tanto que não hesitava em corrigir, ainda que com delicadeza, quem, ao seu lado, deslizava no manejo adequado daquela que foi metaforicamente categorizada por Olavo Bilac como a nossa Inculta e Bela Flor do Lácio. Desportista entusiasmado, Juarez Amaral era assumidamente portador de duas grandes paixões futebolísticas: o Treze Futebol Clube e o Sport Clube Corinthians Paulista.
Nesse particular, um dos bordões privilegiados por Juarez Amaral em suas conversações radiofônicas era: “Isso é nota Treze”. O túmulo por ele adquirido no Campo Santo da Paz, no qual o seu corpo agasalhado pelas flores do adeus foi sepultado no último dia vinte e cinco do recém-findo mês de abril tem o número Treze, homenagem por Juarez Amaral prestada ao seu time de coração. Adepto da atividade física, Juarez Amaral era sinônimo de disciplina férrea, verdadeiramente militar, sendo a sua presença no Açude Velho de nossa cidade uma uma referência inaceitável.
Todos os dias, com chuva ou com sol, lá estava Juarez Amaral com a sua clássica indumentária praticando a sua caminhada. Calção preto, camisa do Corinthians e o inseparável guarda-chuva. Da última vez que o vi, o saúde com as seguintes palavras: Juarez, você é um incansável na atividade física, ao que ele respondeu: tem de ser, continuando, célere, o seu itinerário.
Vitimado pelo insidioso vírus, semeador de tristezas por onde tem cartografado os seus funestos passos, Juarez Amaral agora é saudade dolorosa, memória doída, lembrança dolente, vazio sentido, ausência pranteada, página em branco de um livro no qual sempre pontificou como um protagonista respeitado.
De luto, pois, a imprensa campinense, a radiofonia serrana, pródiga em nomes da mais qualificação, a exemplo de um vasto código onomástico que reúne figuras do porte de Humberto de Campos, Joselito Lucena, Amauri Capiba, Joaci Oliveira, Assis Costa, Fernando Soares dos Santos, dentre tantos outros que dignificaram o ser/fazer do jornalismo e da radiofonia de Campina Grande.
Para o filósofo norte-americano Emerson, o homem é apenas metade de si mesmo, a outra metade é a sua expressão. A expressão de Juarez Amaral de Medeiros, com a força e a fibra emanadas do solo mítico e mágico do Cariri, seu berço e útero primevo, ficará indelevelmente plasmada nas mentes e nos corações dos que com ele conviveram, provaram da sua amizade e foram iluminados com o brilho da sua inteligência.