PENSAMENTO PLURAL O movimento da antipolítica, por Rui Leitão
Em sua crônica, o escritor e historiador Rui Leitão postula como, no atual cenário brasileiro, muitos políticos ostentam “atos e as palavras contradizendo o que pensam verdadeiramente, com o intuito de seduzirem o eleitorado”, e que esta seria “mais uma das hipocrisias que a sociedade brasileira costuma viver”, e que isso caracteriza este movimento de antipolítica. Confira íntegra de seu texto…
A imagem negativa dos políticos no atual cenário brasileiro, tem ensejado o movimento da antipolítica. Fixaram a ideia de que todos os políticos são corrompidos. Se prestarmos bem atenção, esse sentimento é mais uma das hipocrisias que a sociedade brasileira costuma viver. Os discursos se distanciam das práticas, sejam por parte dos próprios atores políticos, sejam nas atitudes cotidianas dos cidadãos. No fundo é uma estratégia de marketing, com o propósito de aproveitarem-se da desilusão e anseios da população, trabalhando falsamente os valores da moral e da honestidade, para construírem novas lideranças.
Paradoxalmente vemos velhos políticos negando a política. “Não sou político, sou gestor” é o mantra preferido. Mas o objetivo é promover o surgimento dos redentores do caos. Já dizia o pensador alemão Bertold Brecht que o “pior analfabeto é o analfabeto político”. A massa alienada absorve facilmente a retórica de uma moralidade extrínseca ao campo político. Os atos e as palavras contradizendo o que pensam verdadeiramente, com o intuito de seduzirem o eleitorado. São manifestações discursivas que omitem ou negam parcialmente verdades que, conhecidas do público, tornar-se-iam prejudiciais à imagem que pretendem construir .
O grande problema desses que se arvoram antipolíticos é que não conseguem se olhar no espelho. Na verdade arquiteta-se um politicídio seletivo, direcionado ostensivamente aos adversários dos que se apresentam como “salvadores da pátria”. São predadores ideológicos a serviço de interesses nada patrióticos. Na maior desfaçatez, muitos dos que atuam há décadas no universo político nacional, inclusive formando seus filhos ou parentes como profissionais da política, se apresentam como os diferentes, antíteses dos antigos praticantes da política que conhecemos. Gestados na anomia social, fantasiam-se de “novos” na política. Lobos na pele de cordeiros.
Há uma passagem bíblica que nos adverte para o cuidado com esses aproveitadores da boa fé do povo, quando Jesus, no Sermão das Montanhas, falou: “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm a vós vestidos de cordeiros, mas por dentro são lobos vorazes”. (Mateus 7,15). Nem será preciso dizer mais nada.
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